domingo, 30 de novembro de 2014

Viação Estrella do Norte

No Termo de Obrigação Inicial, de 12 de dezembro de 1932, assinado pelo proprietário da empresa, e também razão social da Viação Estrella do Norte (com dois eles LL), Djalma Pereira Tavares, tendo como sede à Rua Castro Barbosa, nº 22, no Grajaú, assumiu a operação através de “omnibus-automóveis”, da linha Grajahú x Praça Floriano (Conselho Municipal).

A linha tinha o seguinte itinerário: Rua Caravellas com Rua Grajahú, Rua Professor Valladares, Rua Barão de Mesquita, Rua Moraes e Silva, Rua Ibituruna, Rua Mariz e Barros, Praça da Bandeira, Rua Visconde de Itaúna (na ida) e Rua Senador Eusébio (na volta), Rua Marechal Floriano Peixoto, Av. Rio Branco e Praça Floriano Peixoto.

Suas seções eram: da Rua Caravellas à Rua Barão de Mesquita com Rua Uruguay, $200 (duzentos réis); dali à Praça General Portinho, $200 (duzentos réis) e da Praça General Portinho até a Praça Floriano Peixoto, $600 (seiscentos réis), cobrando da Rua Camerino até a Praça Floriano Peixoto, $200 (duzentos réis) e vice-versa. Não havia referências ao preço de passagem direta.

(Jornal do Brasil, 13/12/1932)

Ficha de alumínio da Viação Estrella do Norte

Em 06 de novembro de 1933, através de um Termo Aditivo, é estabelecida uma linha de “ônibus-automóveis” entre Laranjeiras x Praça Mauá, onde foram mantidas as obrigações do termo de 12/12/1932.

Tendo como itinerário, Rua das Laranjeiras, esquina com a Rua Rumânia, Praça Duque de Caxias, Rua Bento Lisboa, Rua Pedro Américo, Rua do Catete, Largo da Glória, Av. Beira-Mar, Av. Rio Branco e Praça Mauá.

Teve como seções: Laranjeiras à Praça Duque de Caxias, $200 (duzentos réis), Praça Duque de Caxias à Praça Marechal Floriano, $200 (duzentos réis) e Praça Marechal Floriano à Praça Mauá, $200 (duzentos réis), sendo a passagem direta, $600 (seiscentos réis) (1).

Não temos a oficialização, através do Termo de Concessão, porém devido aos próximos documentos, tomamos conhecimento da existência de uma linha – Grajahú x Monroe – que foi operada pela empresa, e posteriormente transferida para a Viação Grajahú.

(A   Noite, 10///08/1935)

(Jornal do Brasil, 11/08/1935)

(Jornal do Brasil, 01/10/1935)

Em 1937 a empresa possuía a maior frota da cidade (2).

No incêndio, temos a notícia e confirmação, em 1938, da linha 14 – Leopoldina x Mourisco, que era da Metropolitana, sendo operada pela Estrella do Norte.

(Diário de Notícias, 24/02/1938)

Já em 1941, a frota era de 76 carros, perdendo apenas para a Viação Excelsior, que possuía 114 carros (2).

Como nem tudo são rosas, a empresa que operava linha no bairro chique de Laranjeiras, transfere sua linha para um subúrbio da Leopoldina, o de Brás de Pina.

Conforme o Termo Aditivo de Obrigações, de 11 de março de 1936, a linha Mauá x Laranjeiras foi substituída pela Monroe x Braz de Pina.

Seu itinerário era: Monroe, Av. Rio Branco, Rua Visconde de Inhaúma, Av. Marechal Floriano, Praça da República, Rua Senador Eusébio (na ida), Rua Visconde de Itaúna (na volta), Av. do Mangue, Av. Francisco Bicalho, Rua Francisco Eugênio, Rua São Cristóvão, Av. Pedro Ivo, Quinta da Boa Vista, Rua São Luís Gonzaga, Largo do Pedregulho, Rua D. Ana Néri, Rua Costa Lobo, Rua Licínio Cardoso, Largo de Benfica, Avenida Suburbana, Avenida dos Democráticos, Rua Uranos, Estrada Rio-Petrópolis, até a Estação de Braz de Pina.

E tinha as seções: Monroe a Camerino, $200 (duzentos réis); Monroe à Estação Barão de Mauá, $400 (quatrocentos réis); Estação Barão de Mauá ao Largo da Cancela, $200 (duzentos réis); Largo da Cancela ao Largo de Benfica, $200 (duzentos réis); Largo de Benfica à Estação de Bonsucesso, $200 (duzentos réis); Estação de Bonsucesso à Estação de Ramos, $200 (duzentos réis); Estação de Ramos à Estação da Penha, $200 (duzentos réis) e Estação da Penha à Estação de Braz de Pina, $200 (duzentos réis). E as diretas: Monroe à Estação da Penha, 1$200 (hum mil e duzentos réis) e Estação Barão de Mauá à Estação da Penha, 1$000 (hum mil réis) (3).

Temos aqui um Termo de Prorrogação e Transferência de Autorização, de 19 de março de 1937, onde era prorrogada a licença da empresa por mais um período de 4 anos (a contar de 12/12/1936) e transferida de Djalma Pereira Tavares à Sociedade Cooperativa dos Chauffeurs Proprietários do Rio de Janeiro, na pessoa do Sr. José Simões, seu diretor-presidente. Como seu nome aludia, era uma cooperativa, onde os motoristas eram os proprietários dos veículos. A linha foi mantida como Monroe x Braz de Pina, agora com a numeração 38, assim como o nome fantasia de Viação Estrella do Norte (4).

Agora, já mudando de década, mais exatamente em 1944, encontramos um pequeno recorte que confirma e informa sobre a existência de três linhas da empresa, S21 – Madureira x Estação de Colégio; S23 – Madureira x Penha e S25 – Madureira x Coelho Neto, das quais a S23 seria suspensa temporariamente, em breve.

(O Globo, 10/07/1944)


A seguir um acidente, contendo a imagem do ônibus da empresa envolvido, confirmando a existência da linha S-64 – Penha x Vila Cascatinha.

(A Noite, 07/09/1946)

Dois exemplares de ônibus, mais modernos da empresa em operação – 1948 e 1950 –, circulando nas linhas 37 – Tiradentes x Penha e 98 – Candelária x Vaz Lobo.  

Linha 37 - Tiradentes x Penha, da Viação Estrela do Norte (1948)

Linha 98 - Candelária x Vaz Lobo, da Viação Estrela do Norte (1950)

O próximo recorte comunica a inauguração, em breve, da linha 94 – Candelária x Irajá, tendo como itinerário a Praça Pio X, Av. Presidente Vargas, Avenida Francisco Bicalho, Avenida Brasil, Avenida Paris, Praça das Nações, Rua Cardoso de Morais, Rua Leopoldina Rego, Rua Nicarágua, Rua Guaianazes, Rua Lobo Júnior, Estrada Brás de Pina, Estrada Vicente de Carvalho, Avenida Automóvel Club e Estação de Irajá. Suas seções foram: Candelária a Olaria, Cr$ 2,00 (dois cruzeiros), Hospital do IAPETC ao Irajá, Cr$ 1,50 (um cruzeiro e cinquenta centavos) e inteira, Cr$ 3,00 (três cruzeiros).

(O Globo, 30/03/1950)

Notícia publicada em 1953 dá conta que: “Os ônibus da Estrela do Norte, pertencentes à ex-'Cooperativa de Chauffeurs', hoje Companhia de Transportes Comercial e Importadora, continuam em péssimo estado. As queixas que temos recebido contra as linhas 37 e 36 são constantes, pois esses veículos trafegam superlotados e quase se desmanchando pelo trajeto”. Em seguida eles mencionam um incêndio com um ônibus da linha 38 – Brás de Pina x Praça da Independência, ocorrido 2 dias antes (5).

Verificamos que houve uma troca de razão social na empresa, ocorrida entre 1950 e 1951.

Na matéria a seguir, percebemos a decadência da empresa que faz pouco caso dos passageiros da sua principal linha a 38 – Tiradentes x Brás de Pina, deixando somente “calhambeques” (vejam a foto com o veiculo ampliado), que vira e mexe enguiçam, para atender ao percurso, e desloca os outros para atender a linha Penha x Caxias, provavelmente por ser um itinerário menor.

(Correio da Manhã, 15/06/1957)

Linha 38 - Tiradentes x Brás de Pina, da Viação Estrela do Norte
(Correio da Manhã, 15/06/1957)


Uma greve quase coletiva faz referência provavelmente à última aparição da empresa nos periódicos, 1958. Provavelmente ela acabou. Não sabemos se por falência ou se por perda da sua concessão.

Suas duas linhas restantes, a 38 – Tiradentes x Penha, foi operada posteriormente pela Transportes Escol Ltda. e a Penha x Caxias, pela Transporte Intermunicipal Ltda.

Triste fim de uma grande e tradicional empresa da nossa cidade.

(Diário de Notícias, 04/06/1958)

Linhas operadas (6):

- De 1932 a 1933, Grajahú x Praça Floriano Peixoto;
- De 1933 a 1935, Monroe x Grajahú;
- De 1933 a 1936, Laranjeiras x Praça Mauá;
- De 1945 a 1947, S-21 – Madureira x Colégio, incorporada da Viação Santa Teresa em novembro de 1945;
- De 1945 a 1952, S-22 – Madureira x Irajá, incorporada da Viação Santos Dumont em novembro de 1945;
- De 1945 a 1947, S-23 – Madureira x Penha, incorporada da Viação Santos Dumont em novembro de 1945;
- Em 1945, S-24 – Madureira x Bento Ribeiro, incorporada da Viação Santa Teresa em novembro de 1945;
- Em 1945, S-25 – Madureira x Coelho Neto, incorporada da Viação Santa Teresa em novembro de 1945;
- De 1947 a 1950, S-26 – Madureira x Rocha Miranda;
- De 1941 a 1946, S-64 – Olaria-Penha x Vila Cascatinha, incorporada da Viação Natal em novembro de 1941;
- De 1941 a 1943, S-73 – Penha x R. Dionísio, incorporada da Viação Natal em novembro de 1941;
- De 1941 a 1947, S-74 – Penha x Vila da Penha, incorporada da Viação Natal em novembro de 1941;
- De 1941 a 1948 (quando foi extinta) S-75 – Penha-Parada de Lucas x Duque de Caxias, incorporada da Viação Cruzeiro em novembro de 1941;
- De 1941 a 1957, S-76 – Penha x Parada de Lucas-Vigário Geral-Duque de Caxias, incorporada da Viação Cruzeiro em novembro de 1941;
- De 1941 a 1947, S-78 – Cordovil-Penha x Av. Meriti, incorporada da Viação Natal em novembro de 1941;
- Em 1936, 13 – Monroe x Brás de Pina, mudada para 76, até 1942;
- De 1938 a 1954, 14 – Leopoldina x Mourisco; a partir de novembro de 1941 incorporou a Viação Metropolitana, antes disso operaram em conjunto;
- Em 1934, 15 – Monroe x Grajahú;
- De 1942 a 1953, 36 – Monroe-Praça Tiradentes x Penha;
- De 1942 a 1956, 37 – Monroe-Praça Tiradentes-Candelária x Penha, via São Luiz Gonzaga;
- De 1942 a 1957, 38 – Monroe-Praça Tiradentes x Brás de Pina, substituída pela Escol;
- De 1937 a 1956 (quando foi extinta), 39 – Monroe-Praça Tiradentes x Brás de Pina-Penha;
- Em 1950, 94 – Candelária x Irajá, operada em 1951 e 1952 pela Viação Central;
- Em 1942, 96 – Arsenal da Marinha x Penha;
- Em 1942 e 1943, 97 – Arsenal da Marinha x Penha;
- De 1942 a 1947, 98 – Arsenal da Marinha x Penha;
- De 1942 a 1953, 99 – Arsenal da Marinha-Candelária-Lapa x Brás de Pina-Parada de Lucas-Vigário Geral e
- Em 1958, 143 – Lapa x Penha, posteriormente operada pela Auto Dinâmica, a qual se transformou posteriormente na 332 – Tiradentes x Penha.

Garagens utilizadas (6):

- Sede: Rua Visconde de Itaúna, 341, Centro;
- Rua Guaporé, 256, Brás de Pina;
- Rua Duprat, 5, Estácio;
- Rua Brás de Pina, 148, Penha;
- Rua Marechal Rangel, 957;
- Av. Presidente Vargas, 2683, tel: 32-1191, Centro;
- Rua São Clemente, 71/73, Botafogo;
- Rua General Polidoro, 58, Botafogo;
- Rua Haddock Lobo, 66, Estácio;
- Rua Conde de Bonfim, 255, Tijuca;
- Rua Pereira Nunes, 399, Aldeia Campista;
- Avenida Brás de Pina, 143, Penha (Garagem Estrela do Norte, depois garagem da Transporte Intermunicipal Ltda. e da Viação Central) e
- Rua Ibatã, 41, Vaz Lobo (depois garagem da Federal Auto Ônibus S/A).

Nota: “Quando garoto, no final dos anos 40 e início dos 50, viajei nos ônibus da Estrela do Norte, os Scania Vabis de cabine avançada que faziam a linha Penha – Duque de Caxias, passando pela ‘barreira’ (divisa de estados), localizada em Vigário Geral. Os ônibus eram pintados de verde-seda e o ponto final era na garagem, na Av. Brás de Pina, em uma esquina. Além da garagem existia uma pequena sala de espera, como em uma rodoviária. Afinal de contas... não deixava de ser uma ‘viagem interestadual’ (Distrito Federal – Estado do Rio de Janeiro). Ao chegar de viagem, um funcionário batia nos pneus com um ferro, para saber se estavam cheios e depois colocava água no radiador. Desligar o motor? Nem pensar... a bateria provavelmente não aguentaria o motor de partida. Bons tempos...” (depoimento do historiador Jaime Morais).

Referências:

(1) – Jornal do Brasil, 07/11/1933
(2) – Informações do pesquisador Antonio Sérgio
(3) – Jornal do Brasil, 12/03/1936
(4) – Jornal do Brasil, 20/03/1937, republicado com correções em 21/03
(5) – Jornal do Brasil, 15/01/1953
(6) – Site MILBUS e livro ‘Guerra das Posições na Metrópole’

[Pesquisa de Eduardo Cunha e Claudio Falcão]

domingo, 23 de novembro de 2014

Viação Continental

Um Termo de Obrigação Inicial, de 31 de dezembro de 1932, foi assinado pelos representantes da Viação Continental Ltda., com sua sede provisória à Rua Carlos Sampaio, nº 64 – Centro, perto da Cruz Vermelha –, através de Norval Campos, diretor gerente, Álvaro de Castro Silva, diretor financeiro e José Francioni, diretor técnico, para estabelecer a linha Rio Comprido x Praça São Salvador.

Tinha o seguinte itinerário: Rua da Estrela, esquina de Barão de Petrópolis, Av. Paulo de Frontin, Rua Haddock Lobo, Rua Machado Coelho, Av. do Mangue, Rua Visconde de Itaúna (na ida), Rua Senador Eusébio (na volta), Praça da República, Rua Marechal Floriano, Av. Rio Branco, Av. Beira-Mar, Rua Barão do Flamengo, Rua Conde de Baependy, Rua Esteves Júnior e Praça São Salvador.

A linha foi secionada do Rio Comprido à Rua Machado Coelho, $200 (duzentos réis); Rua Machado Coelho à Rua Camerino, $200 (duzentos réis); Rua Camerino ao Monroe, $200 (duzentos réis) e dali à Praça São Salvador, $200 (duzentos réis) (1).

Essa linha recebeu em 1934, o número 31. E também, em 1934, a empresa teve sua garagem localizada à Rua Aristides Lobo, nº 234, no Rio Comprido (2).

A seguir, temos a notícia do primeiro incêndio em seus coletivos, na Av. Rio Branco.

(Diário Carioca, 01/01/1935)

Em 17 de maio de 1935, novo Termo de Obrigações Aditivo era assinado por Álvaro de Castro Silva, representante da firma Viação Continental Ltda., proprietária da empresa Viação Continental, para modificar o secionamento da linha Rio Comprido x Praça São Salvador.

Na ida: Rio Comprido à Rua Machado Coelho, $200 (duzentos réis); Rua Machado Coelho à Rua Camerino, $200 (duzentos réis); Rua Camerino ao Monroe, $200 (duzentos réis) e Monroe à Praça São Salvador, $200 (duzentos réis); e

Na volta: Praça São Salvador à Rua Camerino, $400 (quatrocentos réis); Rua Camerino à Rua Machado Coelho, $200 (duzentos réis) e Rua Machado Coelho ao Rio Comprido, $200 (duzentos réis) (3).

Relatamos agora uma inusitada batida entre coletivos. O ônibus da Continental, ao parar em um ponto intermediário, é literalmente atingido pelo reboque do bonde Estrella. O bonde estava parado no ponto final no Rio Comprido, quando um grupo de “moleques do bairro” desengatou o reboque do carro motor, que descendo a rua de ré foi de encontro à traseira do ônibus.

Interessante nesta matéria, a foto mostra a traseira do ônibus onde houve a batida, aparecendo o emblema da empresa e o número do veículo, “4”. Na descrição, é dito que o número do ônibus era 255, que na verdade era a licença do veículo e não o seu número de ordem.

(Diário Carioca, 20/08/1935)

Agora temos dois recortes da mesma matéria. A diferença é que a primeira mostra um motorista de ônibus executando algumas de suas atividades dentro do veículo, em imagem ampliada. Ele está sentado em sua cadeira (atentem para o que está escrito atrás: “CHAUFFEUR”), mexendo em uma caixa com moedas, recebendo a passagem ou já fazendo o troco. Na altura de seu ombro, reparem na caixa de fichas e acima da sua cabeça, a placa com os preços das seções e outras informações relevantes.

Na segunda, o foco é colocado na quantidade de atividades feitas pelos motoristas, e na necessidade das empresas contratarem e utilizarem trocadores em cada veículo, como foi iniciativa adotada pela Excelsior, porém sem o trocador ficar a viagem inteira no mesmo ônibus. Apesar de já ser usada pela Excelsior, a sugestão agora foi dada pelo próprio jornal ‘A Noite’, em uma versão nova e mais completa.

De uma forma um pouco diferenciada, o presente copia o passado, e vemos atualmente algo parecido, não?  

(A Noite, 30/11/1936)

(A Noite, 30/11/1936)

Conforme campanha do ‘A Noite’, no ano anterior, a adoção dos trocadores foi aceita, aprovada e passaria a ser adotada em todos os ônibus administrados pela União das Empresas de Ônibus, conforme entrevista concedida pelo seu presidente, Sr. Álvaro Castro Silva, coincidentemente um dos proprietários da Viação Continental Ltda.

A matéria em si relata informações interessantes, como a existência de uma liga onde somente estão afiliadas algumas empresas do Distrito Federal, enquanto outras não; que neste momento somente elas adotarão o uso de trocadores; a informação da existência de fichas coloridas, ou seja, já eram usadas fichas de galalite e/ou baquelite; critérios para quem quiser se candidatar aos empregos que seriam gerados, entre outras.

(A Noite, 20/01/1937)

O próximo recorte nos traz a confirmação de outra linha que ela operava, linha 16 – Itapiru x Praça XV, e com a novidade dela estar sendo estendida à Lapa.

Nessa sua extensão, a linha passaria a partir da Praça XV, cumprindo o seguinte itinerário. Na ida: Rua Clapp, Rua Santa Luzia, Rua Luiz de Vasconcellos, Rua Teixeira de Freitas e Largo da Lapa e na volta: Av. Mem de Sá, Rua Maranguape, Rua Evaristo da Veiga, Rua Senador Dantas, Rua Santa Luzia, Rua Clapp e Praça XV.

(A Noite, 16/03/1937)

A matéria seguinte mostra a inauguração das novas dependências da empresa, garagem e oficinas à Rua Caetano Martins, nº 36, no Rio Comprido, além da duplicação da frota, e confirma a existência da linha 16, com uma nova extensão, agora na outra ponta, do Rio Comprido para a Rua da Estrella.

(A Noite, 03/08/1937)

Agora temos um acidente da linha 16, novamente com um bonde, desta vez com o carro motor. E na foto aparece, além do acidente, o carro-socorro da empresa, com o nome da mesma tomando toda a lateral da sua lataria.

(A Noite, 25/11/1937)

Apesar de todo o esforço que foi dito ter sido feito pela empresa, a década de 30 vai terminando com reclamação dos moradores e usuários da linha Rio Comprido x São Salvador, em declarações conclamando a Inspetoria de Concessões.

(A Noite, 16/09/1939)

Em 1939 a empresa manteve sua razão social, mas passou para propriedade de Amorim Godinho de Almeida [informações do site MILBUS e do livro Guerra de Posições na Metrópole].

Aqui temos um ônibus da Continental, que devido à Guerra Mundial teve que usar carros com gasogênio como combustível. A foto deve ser de 1942-1943. O carro em questão está passando na Av. Rio Branco, em frente ao Cineac Trianon.

Ônibus a gasogênio
(imagem cedida por Marcelo Prazs)

A década de 40, não está muito melhor para os usuários, e muito menos para os donos da empresa, conforme matéria anexa.

Dessa vez, para os usuários, o problema é nas duas linhas, 15 e 16, tendo até sido suspensa a operação da linha 16. Para os proprietários, as reclamações são maiores: a redução drástica da frota – de 22 para 12 veículos , aumento do preço das peças, manutenção dos preços das passagens desde 1932, redução da folha de empregados, mas em contraproposta aumento dos gastos mensais, entre outras “cositas” mais.

(A Noite, 09/01/1946)

As reclamações, de ambas as partes, parecem ter dado resultado alguns anos depois, conforme podemos constatar. Provavelmente com a captação de empréstimos, a empresa informa que está adquirindo/importando 6 veículos novos, nada mais nada menos que ônibus White, para operarem na linha 15, sendo que alguns imediatamente e outros posteriormente, além de obterem um reajuste nas passagens. Para os usuários, nada mais nada menos que aquela conhecida brincadeira: “tenho duas notícias, uma boa e outra ruim, qual você quer que eu fale primeiro? Ônibus zero km ou aumento da passagem?”.

(Correio da Manhã, 05/02/1949)

Aqui temos um exemplar de ônibus White da Continental, já utilizando o padrão do disco para identificação externa da empresa. Veja a beleza e a diferença do GM, ao lado. Patinho feio...

(Imagem cedida por Marcelo Prazs e Edegar Rios)

Mais uma década passa, e começamos 1950 com uma má notícia para a empresa. Um dos seus veículos estacionado perto da garagem, sofre um furto, estimado no valor de Cr$1.100,00 (hum mil e cem cruzeiros), contidos no interior da caixa coletora de níqueis do veículo. Interessante que em 1950 ainda existisse esse sistema de pagamento da passagem, colocando-se o valor no interior da caixa. Mostra que o nome atribuído, trocador, ainda não era cobrador.

(A Noite, 11/07/1950)

A cobiça era desenfreada e a fiscalização incompetente (ou inexistente...), e aí temos o caso a seguir, relatado sobre a empresa. Percebemos pela matéria que a linha 16 havia voltado a circular, mas acreditamos que por conta própria a empresa dividiu a linha 16, criando a 16B, Barão de Teffé x São Salvador e esticando a 15 até a Lagoa – devido a linha 52, da EMO, ter sido suspensa. Sem contar que os veículos da 16 eram somente 3 e todos em mal estado. Além de ter aumentado o preço da passagem para Cr$2,00 (dois cruzeiros).

(A Noite, 04/10/1951)

Segue imagem de uma ficha usada pela empresa, nas décadas de 30 a 50.


Como já estava sendo desenhado no passar dos anos, a empresa que só contava com 4 veículos circulando, em uma quinta-feira de março de 1954 suspendeu por conta própria suas operações, que nesta época eram só da linha 15, sem dar satisfação a ninguém e muito menos pagar a quem devia. Seus proprietários fugiram com a féria do mesmo dia, sabe-se lá para onde...

(Correio da Manhã, 07/03/1954)

Os três próximos recortes selam oficialmente a cassação da Empresa, conforme decretado pela Prefeitura do Distrito Federal.

É concedida, a título provisório, a concessão para a exploração da antiga linha 15, agora 77 – Rio Comprido x São Salvador, à Ônibus Central Ltda. Em dois dos recortes, é citado o nome da sucessora que será a oficial, a Viação Rio Comprido, após a mesma legalizar sua situação. Essa situação não é explicada, podendo ser duas as hipóteses, ou ela não existia e estava sendo criada, ou então era uma empresa que rodava “ilegalmente”, por não ser sindicalizada. 

(A Noite, 19/05/1954)

(Diário Carioca, 20/05/1954)

(Diário de Notícias, 20/05/1954)

O tiro de misericórdia dado na empresa ficou confirmado com o recorte a seguir.

(Jornal do Brasil, 25/05/1954)

Não temos notícias da Viação Rio Comprido, mas com certeza não foi a de lotações, que existiu a partir da década de 60, e temos confirmações da Central operando a linha 77 até ser absorvida pela Alpha. 

[Nota: ver matéria no nosso blog sobre a Viação Central.]

Referências:

(1) – Jornal do Brasil, 01/01/1933.
(2) – Site MILBUS e livro ‘Guerra das Posições na Metrópole’.
(3) – Jornal do Brasil, 18/05/1935.

[Pesquisa de Eduardo Cunha e Claudio Falcão]