Um Termo de Obrigação Inicial, de 31 de dezembro de 1932, foi
assinado pelos representantes da Viação Continental Ltda., com sua sede
provisória à Rua Carlos Sampaio, nº 64 – Centro, perto da Cruz Vermelha –, através
de Norval Campos, diretor gerente, Álvaro de Castro Silva, diretor financeiro e
José Francioni, diretor técnico, para estabelecer a linha Rio Comprido x Praça
São Salvador.
Tinha o seguinte itinerário: Rua da Estrela, esquina de Barão
de Petrópolis, Av. Paulo de Frontin, Rua Haddock Lobo, Rua Machado Coelho, Av.
do Mangue, Rua Visconde de Itaúna (na ida), Rua Senador Eusébio (na volta),
Praça da República, Rua Marechal Floriano, Av. Rio Branco, Av. Beira-Mar, Rua
Barão do Flamengo, Rua Conde de Baependy, Rua Esteves Júnior e Praça São
Salvador.
A linha foi secionada do Rio Comprido à Rua Machado Coelho,
$200 (duzentos réis); Rua Machado Coelho à Rua Camerino, $200 (duzentos réis); Rua
Camerino ao Monroe, $200 (duzentos réis) e dali à Praça São Salvador, $200
(duzentos réis) (1).
Essa linha recebeu em 1934, o número 31. E também, em 1934, a
empresa teve sua garagem localizada à Rua Aristides Lobo, nº 234,
no Rio Comprido (2).
A seguir, temos a notícia do primeiro incêndio em seus
coletivos, na Av. Rio Branco.
(Diário Carioca, 01/01/1935) |
Em 17 de maio de 1935, novo Termo de Obrigações Aditivo era assinado
por Álvaro de Castro Silva, representante da firma Viação Continental Ltda.,
proprietária da empresa Viação Continental, para modificar o secionamento da
linha Rio Comprido x Praça São Salvador.
Na ida: Rio Comprido à Rua Machado Coelho, $200 (duzentos
réis); Rua Machado Coelho à Rua Camerino, $200 (duzentos réis); Rua Camerino ao
Monroe, $200 (duzentos réis) e Monroe à Praça São Salvador, $200 (duzentos
réis); e
Na volta: Praça São Salvador à Rua Camerino, $400 (quatrocentos
réis); Rua Camerino à Rua Machado Coelho, $200 (duzentos réis) e Rua Machado
Coelho ao Rio Comprido, $200 (duzentos réis) (3).
Relatamos agora
uma inusitada batida entre coletivos. O ônibus da Continental, ao parar em um
ponto intermediário, é literalmente atingido pelo reboque do bonde Estrella. O
bonde estava parado no ponto final no Rio Comprido, quando um grupo de
“moleques do bairro” desengatou o reboque do carro motor, que descendo a rua de
ré foi de encontro à traseira do ônibus.
Interessante
nesta matéria, a foto mostra a traseira do ônibus onde houve a batida,
aparecendo o emblema da empresa e o número do veículo, “4”. Na descrição, é dito
que o número do ônibus era 255, que na verdade era a licença do veículo e não o
seu número de ordem.
(Diário Carioca, 20/08/1935) |
Agora temos dois
recortes da mesma matéria. A diferença é que a primeira mostra um motorista de
ônibus executando algumas de suas atividades dentro do veículo, em imagem
ampliada. Ele está sentado em sua cadeira (atentem para o que está escrito
atrás: “CHAUFFEUR”), mexendo em uma caixa com moedas, recebendo a passagem ou
já fazendo o troco. Na altura de seu ombro, reparem na caixa de fichas e acima
da sua cabeça, a placa com os preços das seções e outras informações
relevantes.
Na segunda, o
foco é colocado na quantidade de atividades feitas pelos motoristas, e na
necessidade das empresas contratarem e utilizarem trocadores em cada veículo,
como foi iniciativa adotada pela Excelsior, porém sem o trocador ficar a viagem
inteira no mesmo ônibus. Apesar de já ser usada pela Excelsior, a sugestão
agora foi dada pelo próprio jornal ‘A Noite’, em uma versão nova e mais
completa.
De uma forma um
pouco diferenciada, o presente copia o passado, e vemos atualmente algo
parecido, não?
(A Noite, 30/11/1936) |
(A Noite, 30/11/1936) |
Conforme
campanha do ‘A Noite’, no ano anterior, a adoção dos trocadores foi aceita,
aprovada e passaria a ser adotada em todos os ônibus administrados pela União
das Empresas de Ônibus, conforme entrevista concedida pelo seu presidente, Sr.
Álvaro Castro Silva, coincidentemente um dos proprietários da Viação
Continental Ltda.
A matéria em si
relata informações interessantes, como a existência de uma liga onde somente
estão afiliadas algumas empresas do Distrito Federal, enquanto outras não; que
neste momento somente elas adotarão o uso de trocadores; a informação da
existência de fichas coloridas, ou seja, já eram usadas fichas de galalite e/ou
baquelite; critérios para quem quiser se candidatar aos empregos que seriam
gerados, entre outras.
(A Noite, 20/01/1937) |
O próximo
recorte nos traz a confirmação de outra linha que ela operava, linha 16 –
Itapiru x Praça XV, e com a novidade dela estar sendo estendida à Lapa.
Nessa sua
extensão, a linha passaria a partir da Praça XV, cumprindo o seguinte
itinerário. Na ida: Rua Clapp, Rua Santa Luzia, Rua Luiz de Vasconcellos, Rua
Teixeira de Freitas e Largo da Lapa e na volta: Av. Mem de Sá, Rua Maranguape,
Rua Evaristo da Veiga, Rua Senador Dantas, Rua Santa Luzia, Rua Clapp e Praça
XV.
(A Noite, 16/03/1937) |
A matéria
seguinte mostra a inauguração das novas dependências da empresa, garagem e
oficinas à Rua Caetano Martins, nº 36, no Rio Comprido, além da duplicação da
frota, e confirma a existência da linha 16, com uma nova extensão, agora na outra
ponta, do Rio Comprido para a Rua da Estrella.
(A Noite, 03/08/1937) |
Agora temos um
acidente da linha 16, novamente com um bonde, desta vez com o carro motor. E na
foto aparece, além do acidente, o carro-socorro da empresa, com o nome da mesma
tomando toda a lateral da sua lataria.
(A Noite, 25/11/1937) |
Apesar de todo o
esforço que foi dito ter sido feito pela empresa, a década de 30 vai terminando
com reclamação dos moradores e usuários da linha Rio Comprido x São Salvador,
em declarações conclamando a Inspetoria de Concessões.
(A Noite, 16/09/1939) |
Em 1939 a
empresa manteve sua razão social, mas passou para propriedade de Amorim Godinho
de Almeida [informações do site MILBUS e do livro Guerra de Posições na Metrópole].
Aqui temos um
ônibus da Continental, que devido à Guerra Mundial teve que usar carros com gasogênio
como combustível. A foto deve ser de 1942-1943. O carro em questão está
passando na Av. Rio Branco, em frente ao Cineac Trianon.
Ônibus a gasogênio (imagem cedida por Marcelo Prazs) |
A década de 40,
não está muito melhor para os usuários, e muito menos para os donos da empresa,
conforme matéria anexa.
Dessa vez, para
os usuários, o problema é nas duas linhas, 15 e 16, tendo até sido suspensa a
operação da linha 16. Para os proprietários, as reclamações são maiores: a
redução drástica da frota – de 22 para 12 veículos –, aumento do preço das peças, manutenção dos preços
das passagens desde 1932, redução da folha de empregados, mas em contraproposta
aumento dos gastos mensais, entre outras “cositas” mais.
(A Noite, 09/01/1946) |
As reclamações,
de ambas as partes, parecem ter dado resultado alguns anos depois, conforme podemos
constatar. Provavelmente com a captação de empréstimos, a empresa informa que
está adquirindo/importando 6 veículos novos, nada mais nada menos que ônibus White, para operarem na linha 15, sendo
que alguns imediatamente e outros posteriormente, além de obterem um reajuste
nas passagens. Para os usuários, nada mais nada menos que aquela conhecida brincadeira:
“tenho duas notícias, uma boa e outra ruim, qual você quer que eu fale
primeiro? Ônibus zero km ou aumento da passagem?”.
(Correio da Manhã, 05/02/1949) |
Aqui temos um
exemplar de ônibus White da
Continental, já utilizando o padrão do disco para identificação externa da
empresa. Veja a beleza e a diferença do GM, ao lado. Patinho feio...
(Imagem cedida por Marcelo Prazs e Edegar Rios) |
Mais uma década
passa, e começamos 1950 com uma má notícia para a empresa. Um dos seus veículos
estacionado perto da garagem, sofre um furto, estimado no valor de Cr$1.100,00
(hum mil e cem cruzeiros), contidos no interior da caixa coletora de níqueis do
veículo. Interessante que em 1950 ainda existisse esse sistema de pagamento da
passagem, colocando-se o valor no interior da caixa. Mostra que o nome
atribuído, trocador, ainda não era cobrador.
(A Noite, 11/07/1950) |
A cobiça era
desenfreada e a fiscalização incompetente (ou inexistente...), e aí temos o
caso a seguir, relatado sobre a empresa. Percebemos pela matéria que a linha 16
havia voltado a circular, mas acreditamos que por conta própria a empresa
dividiu a linha 16, criando a 16B, Barão de Teffé x São Salvador e esticando a
15 até a Lagoa – devido a linha 52, da EMO, ter sido suspensa. Sem contar que
os veículos da 16 eram somente 3 e todos em mal estado. Além de ter aumentado o
preço da passagem para Cr$2,00 (dois cruzeiros).
(A Noite, 04/10/1951) |
Segue imagem de
uma ficha usada pela empresa, nas décadas de 30 a 50.
Como já estava
sendo desenhado no passar dos anos, a empresa que só contava com 4 veículos
circulando, em uma quinta-feira de março de 1954 suspendeu por conta própria
suas operações, que nesta época eram só da linha 15, sem dar satisfação a
ninguém e muito menos pagar a quem devia. Seus proprietários fugiram com a
féria do mesmo dia, sabe-se lá para onde...
(Correio da Manhã, 07/03/1954) |
Os três próximos
recortes selam oficialmente a cassação da Empresa, conforme decretado pela
Prefeitura do Distrito Federal.
É concedida, a
título provisório, a concessão para a exploração da antiga linha 15, agora 77 –
Rio Comprido x São Salvador, à Ônibus Central Ltda. Em dois dos recortes, é
citado o nome da sucessora que será a oficial, a Viação Rio Comprido, após a
mesma legalizar sua situação. Essa situação não é explicada, podendo ser duas
as hipóteses, ou ela não existia e estava sendo criada, ou então era uma
empresa que rodava “ilegalmente”, por não ser sindicalizada.
(A Noite, 19/05/1954) |
(Diário Carioca, 20/05/1954) |
(Diário de Notícias, 20/05/1954) |
O tiro de
misericórdia dado na empresa ficou confirmado com o recorte a seguir.
(Jornal do Brasil, 25/05/1954) |
Não temos
notícias da Viação Rio Comprido, mas com certeza não foi a de lotações, que
existiu a partir da década de 60, e temos confirmações da Central operando a
linha 77 até ser absorvida pela Alpha.
[Nota: ver matéria no nosso blog sobre a Viação Central.]
Referências:
(1) – Jornal do Brasil, 01/01/1933.
(2) – Site MILBUS e livro ‘Guerra das Posições
na Metrópole’.
(3) – Jornal do Brasil, 18/05/1935.
[Pesquisa de
Eduardo Cunha e Claudio Falcão]
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