domingo, 23 de novembro de 2014

Viação Continental

Um Termo de Obrigação Inicial, de 31 de dezembro de 1932, foi assinado pelos representantes da Viação Continental Ltda., com sua sede provisória à Rua Carlos Sampaio, nº 64 – Centro, perto da Cruz Vermelha –, através de Norval Campos, diretor gerente, Álvaro de Castro Silva, diretor financeiro e José Francioni, diretor técnico, para estabelecer a linha Rio Comprido x Praça São Salvador.

Tinha o seguinte itinerário: Rua da Estrela, esquina de Barão de Petrópolis, Av. Paulo de Frontin, Rua Haddock Lobo, Rua Machado Coelho, Av. do Mangue, Rua Visconde de Itaúna (na ida), Rua Senador Eusébio (na volta), Praça da República, Rua Marechal Floriano, Av. Rio Branco, Av. Beira-Mar, Rua Barão do Flamengo, Rua Conde de Baependy, Rua Esteves Júnior e Praça São Salvador.

A linha foi secionada do Rio Comprido à Rua Machado Coelho, $200 (duzentos réis); Rua Machado Coelho à Rua Camerino, $200 (duzentos réis); Rua Camerino ao Monroe, $200 (duzentos réis) e dali à Praça São Salvador, $200 (duzentos réis) (1).

Essa linha recebeu em 1934, o número 31. E também, em 1934, a empresa teve sua garagem localizada à Rua Aristides Lobo, nº 234, no Rio Comprido (2).

A seguir, temos a notícia do primeiro incêndio em seus coletivos, na Av. Rio Branco.

(Diário Carioca, 01/01/1935)

Em 17 de maio de 1935, novo Termo de Obrigações Aditivo era assinado por Álvaro de Castro Silva, representante da firma Viação Continental Ltda., proprietária da empresa Viação Continental, para modificar o secionamento da linha Rio Comprido x Praça São Salvador.

Na ida: Rio Comprido à Rua Machado Coelho, $200 (duzentos réis); Rua Machado Coelho à Rua Camerino, $200 (duzentos réis); Rua Camerino ao Monroe, $200 (duzentos réis) e Monroe à Praça São Salvador, $200 (duzentos réis); e

Na volta: Praça São Salvador à Rua Camerino, $400 (quatrocentos réis); Rua Camerino à Rua Machado Coelho, $200 (duzentos réis) e Rua Machado Coelho ao Rio Comprido, $200 (duzentos réis) (3).

Relatamos agora uma inusitada batida entre coletivos. O ônibus da Continental, ao parar em um ponto intermediário, é literalmente atingido pelo reboque do bonde Estrella. O bonde estava parado no ponto final no Rio Comprido, quando um grupo de “moleques do bairro” desengatou o reboque do carro motor, que descendo a rua de ré foi de encontro à traseira do ônibus.

Interessante nesta matéria, a foto mostra a traseira do ônibus onde houve a batida, aparecendo o emblema da empresa e o número do veículo, “4”. Na descrição, é dito que o número do ônibus era 255, que na verdade era a licença do veículo e não o seu número de ordem.

(Diário Carioca, 20/08/1935)

Agora temos dois recortes da mesma matéria. A diferença é que a primeira mostra um motorista de ônibus executando algumas de suas atividades dentro do veículo, em imagem ampliada. Ele está sentado em sua cadeira (atentem para o que está escrito atrás: “CHAUFFEUR”), mexendo em uma caixa com moedas, recebendo a passagem ou já fazendo o troco. Na altura de seu ombro, reparem na caixa de fichas e acima da sua cabeça, a placa com os preços das seções e outras informações relevantes.

Na segunda, o foco é colocado na quantidade de atividades feitas pelos motoristas, e na necessidade das empresas contratarem e utilizarem trocadores em cada veículo, como foi iniciativa adotada pela Excelsior, porém sem o trocador ficar a viagem inteira no mesmo ônibus. Apesar de já ser usada pela Excelsior, a sugestão agora foi dada pelo próprio jornal ‘A Noite’, em uma versão nova e mais completa.

De uma forma um pouco diferenciada, o presente copia o passado, e vemos atualmente algo parecido, não?  

(A Noite, 30/11/1936)

(A Noite, 30/11/1936)

Conforme campanha do ‘A Noite’, no ano anterior, a adoção dos trocadores foi aceita, aprovada e passaria a ser adotada em todos os ônibus administrados pela União das Empresas de Ônibus, conforme entrevista concedida pelo seu presidente, Sr. Álvaro Castro Silva, coincidentemente um dos proprietários da Viação Continental Ltda.

A matéria em si relata informações interessantes, como a existência de uma liga onde somente estão afiliadas algumas empresas do Distrito Federal, enquanto outras não; que neste momento somente elas adotarão o uso de trocadores; a informação da existência de fichas coloridas, ou seja, já eram usadas fichas de galalite e/ou baquelite; critérios para quem quiser se candidatar aos empregos que seriam gerados, entre outras.

(A Noite, 20/01/1937)

O próximo recorte nos traz a confirmação de outra linha que ela operava, linha 16 – Itapiru x Praça XV, e com a novidade dela estar sendo estendida à Lapa.

Nessa sua extensão, a linha passaria a partir da Praça XV, cumprindo o seguinte itinerário. Na ida: Rua Clapp, Rua Santa Luzia, Rua Luiz de Vasconcellos, Rua Teixeira de Freitas e Largo da Lapa e na volta: Av. Mem de Sá, Rua Maranguape, Rua Evaristo da Veiga, Rua Senador Dantas, Rua Santa Luzia, Rua Clapp e Praça XV.

(A Noite, 16/03/1937)

A matéria seguinte mostra a inauguração das novas dependências da empresa, garagem e oficinas à Rua Caetano Martins, nº 36, no Rio Comprido, além da duplicação da frota, e confirma a existência da linha 16, com uma nova extensão, agora na outra ponta, do Rio Comprido para a Rua da Estrella.

(A Noite, 03/08/1937)

Agora temos um acidente da linha 16, novamente com um bonde, desta vez com o carro motor. E na foto aparece, além do acidente, o carro-socorro da empresa, com o nome da mesma tomando toda a lateral da sua lataria.

(A Noite, 25/11/1937)

Apesar de todo o esforço que foi dito ter sido feito pela empresa, a década de 30 vai terminando com reclamação dos moradores e usuários da linha Rio Comprido x São Salvador, em declarações conclamando a Inspetoria de Concessões.

(A Noite, 16/09/1939)

Em 1939 a empresa manteve sua razão social, mas passou para propriedade de Amorim Godinho de Almeida [informações do site MILBUS e do livro Guerra de Posições na Metrópole].

Aqui temos um ônibus da Continental, que devido à Guerra Mundial teve que usar carros com gasogênio como combustível. A foto deve ser de 1942-1943. O carro em questão está passando na Av. Rio Branco, em frente ao Cineac Trianon.

Ônibus a gasogênio
(imagem cedida por Marcelo Prazs)

A década de 40, não está muito melhor para os usuários, e muito menos para os donos da empresa, conforme matéria anexa.

Dessa vez, para os usuários, o problema é nas duas linhas, 15 e 16, tendo até sido suspensa a operação da linha 16. Para os proprietários, as reclamações são maiores: a redução drástica da frota – de 22 para 12 veículos , aumento do preço das peças, manutenção dos preços das passagens desde 1932, redução da folha de empregados, mas em contraproposta aumento dos gastos mensais, entre outras “cositas” mais.

(A Noite, 09/01/1946)

As reclamações, de ambas as partes, parecem ter dado resultado alguns anos depois, conforme podemos constatar. Provavelmente com a captação de empréstimos, a empresa informa que está adquirindo/importando 6 veículos novos, nada mais nada menos que ônibus White, para operarem na linha 15, sendo que alguns imediatamente e outros posteriormente, além de obterem um reajuste nas passagens. Para os usuários, nada mais nada menos que aquela conhecida brincadeira: “tenho duas notícias, uma boa e outra ruim, qual você quer que eu fale primeiro? Ônibus zero km ou aumento da passagem?”.

(Correio da Manhã, 05/02/1949)

Aqui temos um exemplar de ônibus White da Continental, já utilizando o padrão do disco para identificação externa da empresa. Veja a beleza e a diferença do GM, ao lado. Patinho feio...

(Imagem cedida por Marcelo Prazs e Edegar Rios)

Mais uma década passa, e começamos 1950 com uma má notícia para a empresa. Um dos seus veículos estacionado perto da garagem, sofre um furto, estimado no valor de Cr$1.100,00 (hum mil e cem cruzeiros), contidos no interior da caixa coletora de níqueis do veículo. Interessante que em 1950 ainda existisse esse sistema de pagamento da passagem, colocando-se o valor no interior da caixa. Mostra que o nome atribuído, trocador, ainda não era cobrador.

(A Noite, 11/07/1950)

A cobiça era desenfreada e a fiscalização incompetente (ou inexistente...), e aí temos o caso a seguir, relatado sobre a empresa. Percebemos pela matéria que a linha 16 havia voltado a circular, mas acreditamos que por conta própria a empresa dividiu a linha 16, criando a 16B, Barão de Teffé x São Salvador e esticando a 15 até a Lagoa – devido a linha 52, da EMO, ter sido suspensa. Sem contar que os veículos da 16 eram somente 3 e todos em mal estado. Além de ter aumentado o preço da passagem para Cr$2,00 (dois cruzeiros).

(A Noite, 04/10/1951)

Segue imagem de uma ficha usada pela empresa, nas décadas de 30 a 50.


Como já estava sendo desenhado no passar dos anos, a empresa que só contava com 4 veículos circulando, em uma quinta-feira de março de 1954 suspendeu por conta própria suas operações, que nesta época eram só da linha 15, sem dar satisfação a ninguém e muito menos pagar a quem devia. Seus proprietários fugiram com a féria do mesmo dia, sabe-se lá para onde...

(Correio da Manhã, 07/03/1954)

Os três próximos recortes selam oficialmente a cassação da Empresa, conforme decretado pela Prefeitura do Distrito Federal.

É concedida, a título provisório, a concessão para a exploração da antiga linha 15, agora 77 – Rio Comprido x São Salvador, à Ônibus Central Ltda. Em dois dos recortes, é citado o nome da sucessora que será a oficial, a Viação Rio Comprido, após a mesma legalizar sua situação. Essa situação não é explicada, podendo ser duas as hipóteses, ou ela não existia e estava sendo criada, ou então era uma empresa que rodava “ilegalmente”, por não ser sindicalizada. 

(A Noite, 19/05/1954)

(Diário Carioca, 20/05/1954)

(Diário de Notícias, 20/05/1954)

O tiro de misericórdia dado na empresa ficou confirmado com o recorte a seguir.

(Jornal do Brasil, 25/05/1954)

Não temos notícias da Viação Rio Comprido, mas com certeza não foi a de lotações, que existiu a partir da década de 60, e temos confirmações da Central operando a linha 77 até ser absorvida pela Alpha. 

[Nota: ver matéria no nosso blog sobre a Viação Central.]

Referências:

(1) – Jornal do Brasil, 01/01/1933.
(2) – Site MILBUS e livro ‘Guerra das Posições na Metrópole’.
(3) – Jornal do Brasil, 18/05/1935.

[Pesquisa de Eduardo Cunha e Claudio Falcão]

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