domingo, 27 de abril de 2014

Viação Suburbana


Aqui começamos a mexer em um outro tipo de ‘vespeiro’, um dos muitos que a viação carioca teve e tem, que vem de muitos anos atrás. É uma verdadeira epopeia e parece ser transmitida - não de pais para filhos como os whiskies escoceses -, mas de empresários para empresários, durante quase um século, como se fosse um verdadeiro monopólio, atualmente mais pulverizado.   

Estamos entrando na história de um ‘senhor’ empresário do século XX, mais especificamente dos anos 1920 a 1940, que deteve um poderio composto de garagens, empresas envolvidas com o ramo dos transportes, quer seja através da importação e aluguel de autos de luxo, como também a importação de chassis e motores para confecção de carrocerias e venda de ônibus prontos, representação e manutenção de veículos e também, entre outras atividades, a exploração de linhas de transportes coletivas urbanas e interestaduais de ônibus, tudo isso com o seu império montado na Tijuca. Foi um ‘senhor’ empresário, ao qual devemos uma grande fatia da prosperidade da nossa cidade no antigo Distrito Federal, à época.

Como a sua caminhada foi longa, começamos em termos de transportes coletivos, por onde ele iniciou singela e calmamente na zona rural do Rio de Janeiro, como eram chamados naqueles anos os bairros da atual zona oeste carioca, conforme termo assinado em 26/04/1924. E nada mais justo para a empresa que chamar-se Viação Suburbana. Seu proprietário era o Sr. Mário Bianchi, com razão social Bianchi & Cia.

(Correio da Manhã, 02/11/1941)

Entre 1924 e 1931, a empresa, cuja garagem era na Estrada da Taquara, nº 60, em Jacarepaguá, operou as seguintes linhas Taquara – Largo do Tanque x Rio Grande, futura S-21 e S-32; Taquara x Vargem Grande; Taquara x Madureira; Irajá x Madureira; Madureira x Vicente de Carvalho (via Cascadura e Cavalcanti); e Cascadura x Freguesia. Duas dessas linhas são comprovadas através dos recortes abaixo.

Mas uma das suas primeiras linhas foi a Cascadura x Freguesia (de Jacarepaguá), passando pela Praça Seca, Tanque e Taquara, inaugurada em 18 de agosto de 1926.

(A Noite, 13/08/1926)

(Jornal do Brasil, 03/11/1927)

(O Paiz, 01/07/1928)

Em 1931, a empresa adquiriu a concessão da linha Campo Grande x Carapiá, futura S-52, concedida a Alexandre Marcondes dos Santos (http://rionibusantigo.blogspot.com.br/2014/04/alexandre-marcondes-dos-santos.html) em 1929. Carapiá é uma estrada no bairro de Guaratiba. 

Além disso, operou as linhas Campo Grande x Pedra de Guaratiba, futura S-51; Méier x Cachambi e Cascadura x Jacarepaguá.

(Jornal do Brasil, 25/09/1931)

E ainda nessa década, a empresa teve oportunidade de explorar outras linhas, como a S-1, Méier x Madureira – Osvaldo Cruz – Mal. Hermes, até 1954 (essa última operada em conjunto com a Renascença, durante alguns anos); e Cascadura x Ricardo de Albuquerque, futura S-28, concessão cassada em 1941.

Assim como experimentou vários tipos de intempéries, como mostram os seguintes recortes.

(A Noite, 23/07/1934)

(A Noite, 22/05/1936)

(A Noite, 25/10/1937)

(A Noite, 04/05/1939)

Ônibus Méier, da Viação Suburbana
(O Globo, 20/08/1936)

Em ‘A Noite, 04/05/1939, pág. 3, é publicada a notícia de um incêndio ocorrido na garagem “Bianchi”, de propriedade de Mário Bianchi, situada à Estrada da Taquara, nº 60, Jacarepaguá, onde foram atingidos nove ônibus da Viação Suburbana, das linhas Madureira x Méier (S-1) e Madureira x Irajá, essa a futura S-22, operada a partir de 1942 pela Viação Santos Dumont e posteriormente pela Sociedade Cooperativa.

Já a década de 40, mal começou e não teve futuro para o ilustre empresário, pois em 30/12/1940 ele foi assassinado dentro da própria garagem da empresa, por um funcionário seu, conforme anunciam as matérias abaixo.

‘A Noite’, 30/12/1940, págs. 1 e 2:

“Assassinado o Sr. Mario Bianchi
Era o proprietário da Viação Carioca e de outras empresas de transporte – Como se verificou o crime – O matador é um eletricista polonês
Notas: 1) Notícia de capa, com fotos de Mário Bianchi e do assassino; 2) Do texto foram retiradas as seguintes informações: a) Era proprietário da Companhia de Ônibus Viação Carioca, que explorava a linha de ônibus Ipanema x Tijuca, de cor vermelha escura e da Viação Picorelli, que fazia as linhas Rio x Petrópolis e Juiz de Fora-Rio; b) Escritórios, oficinas e garagem da Viação Carioca: Rua Conde de Bonfim, 821; c) Mário Bianchi era casado com D. Prazeres [Garcia] Bianchi, tendo três filhos: Mário, Trieste e Vera e residia à Rua Conde de Bonfim, 824”.

‘A Noite’, 02/01/1941, pág. 8:
 “Tendo sido assassinado na tarde de segunda-feira [30/12] o industrial Mário Bianchi, proprietário da Viação Carioca, na terça-feira às últimas horas do expediente forense foi distribuído o seu inventário à 3ª Vara de Órfãos e Sucessões, requerido por sua esposa”.

‘A Noite’, 06/01/1941, pág. 7:
“Comunicados
+ Mario Bianchi
“As empresas Viação Carioca, Brasileira de Ônibus, Viação Suburbana, Viação Cruzeiro do Sul, Picorelli e Rio-Minas, mandam celebrar em sufrágio da alma de seu inesquecível chefe, MARIO BIANCHI, missa solene de sétimo dia, na Igreja da Catedral, altar de Nossa Senhora da Cabeça, no dia 7 do corrente, às 10,30 horas da manhã e convidam para assistir ao ato religioso todos os parentes e amigos”.

A partir de 1941, a empresa, durante o espólio, foi administrada e teve sua razão social alterada para Prazeres Bianchi. Em 1947 foi criado um escritório na Rua Silva Gomes, nº 15, em Cascadura, época em que a viúva contou com ajuda de Amorim Godinho de Almeida, empresário já conhecido, na administração da empresa, até 1952.

Como se vê, a década de 40 não foi muito estável para a Suburbana.

(Correio da Manhã, 06/11/1949)

A década de 50 marcou a existência de uma das linhas mais antigas, ainda circulantes na cidade, a S-76 – Praça Saenz Peña x Cascadura – Madureira – Mal. Hermes, atual 638, antiga 76.

N. do E.: O prefixo ‘S’ antes de um número de linha, significava que a linha era Suburbana e tal termo só se atribuía a linhas que partiam da Zona Norte para a Zona Oeste ou Zona Norte, Zona Rural, como eram conhecidas, e não obrigatoriamente a linhas que partiam da Tijuca, como era o caso da 76. Ela só recebeu o prefixo S e ficou sendo S-76, na década de 50, mais exatamente em 58 quando a Penha x Vigário Geral, da Estrela do Norte, foi extinta.

Ônibus da linha S-76, circulando pelo Méier
(acervo de Prazs-Edegar)


Ônibus da linha S-76, chegando à Praça Saenz Peña (ano: 1958)


(O Globo, 30/12/1955)

Mas marcou também pelos desfalques à companhia, pelos seus próprios funcionários.

(Correio da Manhã 18/02/1951 -
aqui teria havia um equívoco do jornal, pois
o endereço era à Rua Carolina Machado)

Existiram também as linhas, S-77, Saenz Peña x Guadalupe, de 1950 a 1959, quando foi extinta; a linha 77, Candelária – Praça Mauá x Mal. Hermes, em 1952, linha paralisada conforme DOU de 03/05/1952.

Nessa década tivemos duas trocas de razão social, sendo em 1952 para A. Fernandes Nunes e em 1955 para Euclides Neves, até 1965.


Gazeta de Notícias, 23/08/1956)

Em 1958, a Suburbana operou a linha 204, Castelo x Bangu, que seguia o seguinte itinerário: Praça Presidente Antônio José de Almeida, Av. Presidente Antônio Carlos, Rua Nilo Peçanha, Av. Rio Branco, Av. Presidente Vargas, Av. Francisco Bicalho, Av. Brasil, Rua Prefeito Olímpio de Melo, Rua São Luís Gonzaga, Largo do Benfica, Av. Suburbana, Ponte de Cascadura, Av. Ernani Cardoso, Estrada Intendente Magalhães, Av. Santa Cruz e Estação de Bangu, conforme informações e foto, cedidos por Pesquisas Marcelo Prazs.

Ônibus da linha 204, da Viação Suburbana - 1956
(imagem cedida por Marcelo Prazs)

  Na década de 60, além da linha 638, há a operação da 639, Praça Saenz Peña x Cascadura – Rocha Miranda e a absorção das concessões das linhas 781 e 782, Cascadura x Mal. Hermes, via Praça Seca e via Rocha Miranda, que foram ambas (781 e 782), anteriormente exploradas pela Empresa de Transportes Pereira Santos Ltda. e pela Auto Viação Kennedy S/A. Abaixo um exemplar da Suburbana, na 782. Tinha sua garagem na Rua Carolina Machado, nº 2.150, em Marechal Hermes.


Ônibus da linha 782
(site Cia. de Ônibus - acervo Antônio Sousa Guedes)

Nesse mesmo ano a empresa foi flagrada desrespeitando a tabela de preços definidos pelo BTU (Bureaux dos Transportes Coletivos), conforme mostra a matéria anexa


(Correio da Manhã, 16/01/1960)

Em 1965, tivemos mais uma troca de razão social, desta vez para Viação Suburbana Ltda. Ela foi a última a substituir a pintura tradicional, amarela, vermelha e branca. Seus números de ordem, nas devidas épocas, foram 855x e 185xx.

Ela foi adquirida, em 1981, pela Auto Viação Três Amigos S/A.

[Demais informações oriundas do site MILBUS, e publicações ‘Guerra das Posições na Metrópole’, PDF e DOUDF.]

[Pesquisa de Eduardo Cunha e Claudio Falcão] 

20 comentários:

  1. Achei fabuloso, um verdadeiro dossiê da Viação Suburbana e do lendário Mário Bianchi que encarnou seu lado empresarial no J.B. Apenas duas observações: 1º - A linha Campo Grande x Carapiá, tenho como sendo da Viação São José. 2º - Aquele ônibus da linha S-1 tenho como sendo da Renascença Auto Ônibus.

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    1. Prazs, mais uma vez valeu pela visita e comentários. Quanto as tuas colocações, a primeira não tem o que contestar a passagem da empresa e da linha para a exploração da Suburbana/Bianchi, o que pode ter acontecido é que posteriormente a linha foi para a Viação São José, que era o que eu também tinha de informação. Quanto a segunda, este modelo de ônibus era fabricado pela encarroçadora do Bianchi, então tende mais a ser da Suburbana do que da Renascença.

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  2. Impressionante esse blog sobre as antigas empresas de ônibus do RJ, que fim trágico desse Sr. Mário Bianchi, pelo o q venho acompanhando ele foi o verdadeiro "Rei dos Ônibus", eu achava que o Sr. Jacob Barata era o grande destaque no cenário dos precursores do transporte coletivo no RJ, nessa época ele ainda usava fraldas, mas pelo o que estou lendo esse senhor Mário Bianchi foi o pioneiro no desenvolvimento do transporte coletivo do RJ. Parabéns Eduardo Cunha por essa riqueza de informação.

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    1. Alexandre, mais uma vez agradeço pelo elogio ao blog. Sim nos dias de hoje, temos em mente uma outra pessoa o Barata, mas o Bianchi foi sem dúvida o precursor de todo esse mundo/império rodoviário urbano, que se criou posteriormente. Acredito que se não tivesse morrido tão prematuramente, ele não teria deixado o Barata tomar conta, talvez nem existisse!!! Grato mais uma vez, também pela visita, e volte e comente sempre. Abraços, Eduardo

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    1. Alexandre, boa tarde. Muito obrigado pela vista ao blog e pelo elogio. Volte sempre.

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  4. Olá!
    você tem fotos da linha Inhaúma - Benfica em 1973?
    Obrigada.

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    1. Olá Consuêlo, gratos pela visita e comentário. Infelizmente não tenho e não sabia que a Suburbana tinha feito esta linha nessa época. Você sabe dizer qual era o número da linha? Se você tiver foto dessa linha e quiser me enviar, publicarei e porei seu nome como detentora da foto. Abraços e volte sempre.

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  5. Caro amigo Eduardo, com a morte prematura desse grande homem dos transportes coletivos do RJ algum "Bianchi" não deu continuidade nesse império q esse homem deixou? Pq ñ vejo nenhum sobrenome "Bianchi" figurando em nenhuma empresa de ônibus no RJ.

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    1. Caro Alexandre, boa tarde. Grato pela participação e pela interessante pergunta. Sim ele formou um grande império mas só tinha três filhos, sendo que a filha não quis nada com o negócio e dos rapazes o único que tentou alguma coisa foi o Trieste, mas ficou provado que só serviu para a falir a empresa que abriu posteriormente em 48, a Auto Viação Nacional S/A, que faliu em 65. Vá até a matéria sobre ela (Nacional) e leia. Grato pela participação e volte sempre.

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    2. Amigos, meu nome é Erik Bianchi sou um dos 3 netos do Trieste Bianchi ainda vivo e com 95 anos de idade, essa informação de falência não procede, a empresa foi vendida por decisão do meu avô que e a garagem continua conosco até hoje, fica na Rua São Miguel, 177 hoje um estacionamento da família, caso queiram mais informações é só passar lá e me procurar, será um prazer.

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    3. Boa noite, Erik, grato pelo contato. Meu nome é Eduardo Cunha e tenho 66 anos. Coincidentemente seu irmão ou primo também me escreveu, o Bernardo, e irei respondê-los, separadamente hoje. Acredito que vocês estejam se referindo a Nacional, apesar de estar na matéria sobre a Suburbana, pois não há citação alguma sobre falência na matéria da Suburbana e o seu avó ter sido proprietário da Nacional. Sou morador da Tijuca, na rua em que moro, a São Miguel começa e conheço perfeitamente o local da garagem. Terei o maior prazer em saber coisas que desconheço sobre a Nacional e havendo razões, alterar a publicação, o que faço sempre que há notícias significativas para tal, em qualquer empresa. Sobre as informações postadas, nosso princípio é notificar no blog matérias, livros, empresas, DOUs e declarações pessoais verídicas de pessoas idôneas, com suas respectivas fontes. No caso da notificação da falência da Nacional, reconheço que houve um engano meu, informando a falência decretada, quando a mesma foi somente REQUERIDA por uma determinada credora. Irei fazer a alteração mas vou esperar tuas informações e do Bernardo, para completar a matéria. Escreva-me no email eduardocunha0511@gmail.com.br, informando o que discorda ou se preferir, mande-me um telefone fixo, que lhe ligarei. Lamento e saudações, Eduardo Cunha.

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    4. Segundo minhas pesquisas, a Viação Nacional do Trieste Bianchi, como já mencionei em outras ocasiões, foi muito sacaneada pelo poder concedente da época. Tanto ela como a Relâmpago e a Universal e a Central eram as ''finas flores'' do Rio (Capital). A política nociva é pior praga para um País. Haja vista o que vivemos atualmente.

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    5. Prazs, há duas condições distintas envolvidas. Acho que houve a sacanagem que foi contrária ao incentivo que a PDF influenciou nas empresas - comprem carros importados, melhorem o transporte público e terão aumento nos valores das passagens proporcionais aos carros que tiverem, - os aumentos não foram equivalentes a diferença entre os gostosões e os caminhões adaptados. E houve a bancarrota das empresas em si, as que você cita e outras também, devido a II WW, que fez com que qualquer peça importada fosse caríssima, devido a falta de material e dinheiro, após guerra. Isso fez com que os ônibus virassem ferro-velhos, veja o caso da Relâmpago, no qual seus GM Coachs, batinham todos os meses, por culpa de quem, da guerra? Não, da própria empresa que não deu o adequado treinamento aos seus motoristas, que pareciam estarem puxando uma carroça, não sabiam dirigir aquele tipo de ônibus moderno. Abraços, Euardo.

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  6. Prezado Eduardo primeiramente gostaria de parabenizar o excelente trabalho desenvolvido pelo senhor. Sou bisneto de Mario Bianchi e neto de Trieste Bianchi (que ainda está vivo) e algumas de suas informações estão erradas. Caso haja interesse poderíamos conversar e esclarecer alguns pontos. Forte abraço!

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    1. Bernardo boa noite. Gostaria de agradecer pelos elogios. Recebi também um contato do EriK Bianchi, que acabei de responder e agora lhe peço que leia o que respondi para ele, logo acima do teu comentário. Poderemos com certeza conversar e corrigir, incluir etc qualquer coisa na matéria, desde que seja pela informação correta para os leitores e para o futuro. Por favor, use o email citado acima e manteremos contato. Lamento o corrido, Eduardo Cunha.

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    2. Prezado Eduardo, estarei passando meu contato telefônico para seu email e ficarei muito feliz e empolgado de te contar algumas histórias da minha família que infelizmente não esta mais no ramo de transportes. Desde já agradeço pela atenção forte abraço! OBS: Se preferir ir até a antiga garagem da nacional como meu irmão disse será um prazer recebe-lo.

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    3. Vou lhe responder o email mais tarde e então combinaremos. Abraço, Eduardo.

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  7. Gostei muito desse blog e gosto de conhecer as histórias do transportf coletivo no RJ,muito bom,mas muito bom mesmo!

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    1. Denildo, boa noite. Grato pela visita e elogios aos conteúdos das matérias das empresas de ônibus que colocamos. Acredito haver ainda muito material para você ver, ler e comentar, o que estamos esperando. Gostamos muito desta tua visita e fique a vontade para voltar quantas vezes quiser, bem como se tiveres alguma matéria, foto, ficha ou qualquer outro material que quiser nos dar a satisfação de publicar, que faremos referência a você com seus direitos de propriedade. Um forte abraço e volte sempre. Grato, Eduardo.

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