A Empresa Municipal de Ônibus
S/A, conhecida carinhosamente por EMO, iniciou suas atividades no Distrito
Federal em maio de 1948, com as linhas 100 – Largo do Maracanã x Praça Nossa Senhora
da Paz e 51 – Castelo x Lagoa, conforme ilustra a imagem de um ônibus REO, apelidado carinhosamente de ‘Gilda’,
devido à sua maciez e linhas modernas, que foi
um dos primeiros modelos de veículos da empresa.
Vejam pelo cartão que seu
escritório era na Av. Churchill, 87-A, loja, no Centro e sua garagem na Rua
Gonzaga Bastos, 289, na antiga Aldeia Campista.
(Diário da Noite, 01/11/1948) |
Ônibus REO da linha 51 - Castelo x Lagoa |
Posteriormente, porém no mesmo
ano, inaugurou a linha 52 – Castelo x Jockey Clube, conforme propaganda anexa.
E mais tarde, ainda em 12/1948, a
linha 1 – Hospital dos Servidores x Aeroporto, que foi extinta em 1952.
(A Noite, 20/12/1948) |
Ônibus REO 'Gilda' da linha 1 |
Em 1949, em uma notícia sobre uma
tentativa de assassinato entre dois funcionários da empresa, é confirmada a
existência da linha 52.
(A Noite, 05/02/1949) |
Imagens das fichas utilizadas
pela empresa, na década de 40:
Os próximos recortes nos mostram
que nada é como se pensa, ou seja, quem fez a primeira linha do Centro para a Ilha
do Governador não foi a Paranapuan e sim a EMO, isso mesmo, a Municipal, com a
linha Praça Mauá x Governador, mais especificamente Galeão, linha 8.
Pela reclamação colocada na
matéria, com relação à continuidade da viagem pelos demais recantos da Ilha, é
um assunto e um processo mais amplo que trataremos a seguir.
(A Manhã, 19/03/1949) |
O acesso à Ilha pela ponte para
efeitos de transporte urbano, conforme vista da entrada da ponte nova a partir
de 1949, foi feito através de duas origens. Uma de Bonsucesso, através da
Viação Continente-Ilha Ltda. (matéria a ser publicada em outra edição) e
posteriormente pela EMO, do Centro da cidade.
A Continente-Ilha possuía dois
velhos e gastos ônibus comprados da Excelsior – com faróis adaptados, pintados
de cinza, com os para-lamas pretos –, que após passar a ponte da Ilha fazia seu
ponto final ali no Galeão. Uma solução um tanto quanto ineficiente, para a
extensão da Ilha.
Com a criação da linha da EMO,
que também fazia ponto final no Galeão, junto a um dos almoxarifados da Base Aérea,
mais ou menos no local onde hoje em dia tem um AVRO que serve de ornamento, perto da Avenida que dá acesso ao
Aeroporto.
A linha Praça Mauá x Governador
era feita pelos ônibus marca ‘REO’,
com propulsão a gasolina, e como a manutenção era precária, eventualmente
ocorriam vazamentos de combustível, os quais originavam pequenos incêndios. Seu
trajeto era o seguinte: Praça Mauá, Av. Rodrigues Alves, Av. Brasil, 1ª Ponte,
Ilha do Fundão, 2ª Ponte e Galeão, e a passagem custava Cr$ 2,00 (dois
cruzeiros).
Lá chegando, o passageiro tinha que
aguardar o ‘Detefon’, que o levaria até a Freguesia.
A origem do apelido dado aos dois
ônibus era pelos mesmos serem velhos, esburacados, sujos e cheios de baratas.
Existiam duas linhas, Freguesia x Galeão, Via Ribeira e Freguesia
x Galeão, Via Cacuia, ambas ao preço de Cr$ 1,50 (um cruzeiro e cinquenta
centavos), sendo que nenhuma das duas linhas passava pela Praia da Bica (Jardim
Guanabara), o que deixava os moradores em uma situação difícil em relação aos
transportes.
(Correio da Manhã, 12/02/1950) |
[Declarações de um
motorista da Paranapuan – hoje ainda morador da Ilha, com 83 anos de idade –,
obtidas pelo historiador Jaime Moraes e do próprio Jaime Moraes]
Na foto abaixo, um REO da EMO, no Galeão. Eles eram de
motor traseiro ou também usavam os International,
todos pintados de creme com acabamentos ou faixas em azul marinho. Se o tempo
estivesse bom, ou seja, permitisse, circulavam do Galeão para a Freguesia e para
a Ribeira junto aos ‘Detefon’, e ocasionalmente com os Scania Vabis, com carroceria Grassi.
Temos aqui o exemplo de um Grassi circulando em apoio às linhas
internas, “perdido” na Estrada do Galeão, ainda sem a pavimentação. Devido ao
tipo desta, cor da pintura azul marinho na dianteira e sujo de lama, foram
apelidados de ‘Boi da Cara Preta’.
Ônibus REO da EMO (A Noite, 04/05/1949) |
Ônibus International da EMO (Correio da Manhã, 12/02/1950) |
Ônibus Grassi da EMO (Correio da Manhã, 12/02/1950) |
Agora, duas vistas do interior da
Ilha após o Galeão, ou seja os itinerários tomados pelas duas linhas de
ligação. Podemos ver o estado das pistas, mesmo em obras e com máquina
trabalhando na pista. A viagem nada tinha de agradável.
(Correio da Manhã, 12/02/1950) |
Para
tentar sintetizar o que aconteceu, a concessão dada inicialmente seria para Emygdio
Luiz de Freitas (ver matéria da Empreza E. L. Freitas), mas a empresa que
tinha e explorava as linhas internas não possuía estrutura suficiente,
contentando-se então com uma linha entre Bonsucesso x Ilha do Governador, a
qual durou pouco tempo e que provavelmente era a Viação Continente-Ilha Ltda.
Então a
solução encontrada foi ceder provisoriamente a nova linha a uma empresa já
estabelecida na cidade, no caso a EMO. No entanto, a Ilha possuía pouquíssimas
ruas pavimentadas e os ônibus urbanos convencionais certamente não iriam
resistir por muito tempo à lama e aos buracos.
Optaram
por operar a linha com dois tipos de ônibus: a linha 8, Mauá x Freguesia,
utilizaria veículos REO de motor
traseiro, iguais aos que trafegavam na linha 51, Castelo x Lagoa, fazendo
somente o trajeto Praça Mauá x Galeão. Chegando ao Galeão, próximo à atracação
das barcas, os passageiros fariam a baldeação para um dos antigos ônibus “Guy” e que seguiriam o trajeto restante
até a Freguesia. Suas enormes rodas passavam por qualquer buraco mais profundo.
A viagem da Praça Mauá até a Freguesia demorava mais de hora e meia.
Como a
solução era provisória, tão logo foi organizada uma nova empresa, no caso a
Paranapuan, os ‘Gilda’ e ‘Detefon’ saíram de circulação, o que ocorreu cerca de
um ano e meio após a inauguração da ponte.
Acredito
que tenha ficado mais fácil para compreender.
[Declarações do historiador Jaime
Moraes]
Encerrando o assunto EMO na Ilha,
informamos que no projeto de estatutos da futura empresa Transportes Paranapuan
S/A, de agosto de 1949, menciona-se que esta adquiriria o acervo da Viação
Continente-Ilha Ltda., bem como os direitos da concessão ‘Ilha do Governador’ da
EMO.
Também a repercussão da
“negociata” entre a Paranapuan, EMO e Prefeitura, com respeito à concessão das
linhas 8 – Praça Mauá x Freguesia e 7 – Praça Mauá x Ribeira, incluindo a
participação do Sr. Castro e Silva, como diretor de ambas empresas e também da
TURI. Considerando também que a Copanorte solicitou concessão para operar uma
linha do Centro à Ilha e não teve sua concessão autorizada.
(Imprensa Popular, 17/05/1951) |
Em anúncio publicado, tomamos
conhecimento de mudança no endereço do escritório para a Av. Churchill, 94,
sobreloja, no Centro (1) e
da empresa para a Av. Guilherme Maxwell, 210, Bonsucesso (2).
Assim como mostramos na matéria
da TURI, seguem o modelo (frente e verso) dado por um vereador para viajarem de
graça nos veículos das duas empresas, no dia das eleições de 1950. Atentem que nesse
ano a empresa não mais operava a linha 100.
Passes de gratuidade para linhas de ônibus da EMO e TURI |
Em 1950, a empresa começa a
operação da linha 9 – Praça Harmonia x Mourisco, até 1951, posteriormente Praça
Harmonia x Bairro Peixoto, de 1951 a 1959, e em conjunto com a TURI em 1959.
Mais tarde substituída por 178 e passada para a Transmontana, que chegou a
esticá-la até a Gávea.
Anexo um REO operando essa linha.
Ônibus REO 'Gilda' da EMO, linha 9 - Mauá x Mourisco (1952) |
Fichas usadas pela EMO, durante
os anos 50:
Já em 1951, ela inicia a operação
de uma linha que fora operada pela Lubrasa, a 115 – Estrada de Ferro x
Laranjeiras, de 1951 a 1957; de 1958 a 1963, em conjunto com a TURI, e substituída
pela 184, de 1963 a 1969, operada somente pela EMO.
[Informações do livro ‘Guerra de
Posições na Metrópole’]
Ônibus Grassi da EMO (Última Hora, 1956) |
Operou também a linha 102, que
havia sido da Relâmpago, Praça Saenz Peña x Largo Machado, de 1957 a 1963;
operada em conjunto com a TURI, substituída pela 405; e de 1963 a 1969, somente
a EMO.
[Informações do livro ‘Guerra de
Posições na Metrópole’]
Ônibus GMB da EMO, linha Saenz Peña x Largo do Machado |
Ônibus Grassi da EMO (Última Hora, 1958) |
Em 1963, a TURI foi anexada à EMO,
devido a portaria da prefeitura limitando a uma quantidade mínima os ônibus das
empresas cariocas.
Anexo modelo de ônibus CAIO operado pela EMO, na década de 60.
Ônibus CAIO da EMO, década de 60 |
A linha 101 – Praça Saenz Peña x
Leblon, era operada pela Santa Cecília, até que a mesma faliu em 1964, e a EMO
durante esse mesmo ano operou até a extinção da linha (3).
Em seu final de carreira, a EMO operou
somente a linha 184, no que foi substituída pela Leblon.
Linhas operadas pela empresa:
1 – Hospital dos Servidores x
Aeroporto, de 1948 a 1952, extinta;
8 – Praça Mauá x Galeão e Galeão
x Freguesia, na Ilha do Governador, de 1949 a 1951;
9 – Praça Harmonia x Mourisco, 1950
e 1951; Praça Harmonia x B. Peixoto, 1951 a 1959 e com a TURI em 1959;
51 – Castelo x Lagoa, de 1948 a 1952;
52 – Castelo x Jockey Clube, de 1948
a 1953;
100 – Largo do Maracanã x Praça
Nossa Senhora da Paz, de 1948 a 1949;
101 – Praça Saenz Peña x Leblon,
em 1964, em substituição à Santa Cecília, extinta;
102 – Praça Saenz Peña x Largo
Machado, de 1957 a 1963, operada em conjunto com a TURI, substituída pela 405,
de 1963 a 1969, somente a EMO;
115 – Estrada de Ferro x
Laranjeiras, de 1951 a 1957, de 1958 a 1963, em conjunto com a TURI,
substituída pela 184, de 1963 a 1969, somente a EMO.
Referências:
(1) – Diário Carioca, 17/05/1950;
(2) – Jornal do Brasil,
07/03/1951 e
(3) – DOU/DF, 1964.
Pesquisando sobre o assunto, descobri que os ônibus "Gilda" , tal como aquele da Linha 51, não são de fabricação REO ( aquele da Linha 1, sim, é um REO. Os demais são de fabricação Ford, modelo " Transit", com motor V8 Traseiro.
ResponderExcluirLembrando que a TURI operou a linha 208 Castelo Bancários em 1959, quando foram apelidados de "Boi da Cara preta" devido a pintura azul marinho na frente.
Parabéns pelo excelente trabalho !
Jaime, seja sempre bem-vindo e grato pelos elogios e demais comentários. Muito bom saber que os "Gildas", não eram REO e ótima lembrança sua da linha 208, explorada pela TURI que você já havia me dito, e eu esqueci de incluir na matéria, bem como a linha 9 da TURI, também. Irei alterar as matérias, EMO e TURI, incluindo essas correções. Abraços e esteja sempre conosco divulgando seus conhecimentos.
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