domingo, 25 de outubro de 2015

Empresa Municipal de Ônibus S/A

A Empresa Municipal de Ônibus S/A, conhecida carinhosamente por EMO, iniciou suas atividades no Distrito Federal em maio de 1948, com as linhas 100 – Largo do Maracanã x Praça Nossa Senhora da Paz e 51 – Castelo x Lagoa, conforme ilustra a imagem de um ônibus REO, apelidado carinhosamente de ‘Gilda’, devido à sua maciez e linhas modernas, que foi um dos primeiros modelos de veículos da empresa.

Vejam pelo cartão que seu escritório era na Av. Churchill, 87-A, loja, no Centro e sua garagem na Rua Gonzaga Bastos, 289, na antiga Aldeia Campista.

(Diário da Noite, 01/11/1948)

Ônibus REO da linha 51 - Castelo x Lagoa 

Posteriormente, porém no mesmo ano, inaugurou a linha 52 – Castelo x Jockey Clube, conforme propaganda anexa.

E mais tarde, ainda em 12/1948, a linha 1 – Hospital dos Servidores x Aeroporto, que foi extinta em 1952.

(A Noite, 20/12/1948)

Ônibus REO 'Gilda' da linha 1

Em 1949, em uma notícia sobre uma tentativa de assassinato entre dois funcionários da empresa, é confirmada a existência da linha 52.

(A Noite, 05/02/1949)

Imagens das fichas utilizadas pela empresa, na década de 40:


Os próximos recortes nos mostram que nada é como se pensa, ou seja, quem fez a primeira linha do Centro para a Ilha do Governador não foi a Paranapuan e sim a EMO, isso mesmo, a Municipal, com a linha Praça Mauá x Governador, mais especificamente Galeão, linha 8.

Pela reclamação colocada na matéria, com relação à continuidade da viagem pelos demais recantos da Ilha, é um assunto e um processo mais amplo que trataremos a seguir.

(A Manhã, 19/03/1949)

O acesso à Ilha pela ponte para efeitos de transporte urbano, conforme vista da entrada da ponte nova a partir de 1949, foi feito através de duas origens. Uma de Bonsucesso, através da Viação Continente-Ilha Ltda. (matéria a ser publicada em outra edição) e posteriormente pela EMO, do Centro da cidade.

A Continente-Ilha possuía dois velhos e gastos ônibus comprados da Excelsior – com faróis adaptados, pintados de cinza, com os para-lamas pretos –, que após passar a ponte da Ilha fazia seu ponto final ali no Galeão. Uma solução um tanto quanto ineficiente, para a extensão da Ilha.

Com a criação da linha da EMO, que também fazia ponto final no Galeão, junto a um dos almoxarifados da Base Aérea,  mais ou menos no local onde hoje em dia tem um AVRO que serve de ornamento, perto da Avenida que dá acesso ao Aeroporto. 

A linha Praça Mauá x Governador era feita pelos ônibus marca ‘REO’, com propulsão a gasolina, e como a manutenção era precária,  eventualmente ocorriam vazamentos de combustível, os quais originavam pequenos incêndios. Seu trajeto era o seguinte: Praça Mauá, Av. Rodrigues Alves, Av.  Brasil, 1ª Ponte, Ilha do Fundão, 2ª Ponte e Galeão, e a passagem custava Cr$ 2,00 (dois cruzeiros).

Lá chegando, o passageiro tinha que aguardar o ‘Detefon’, que o levaria até a Freguesia.

A origem do apelido dado aos dois ônibus era pelos mesmos serem velhos, esburacados, sujos e cheios de baratas.

Existiam duas linhas, Freguesia x Galeão, Via Ribeira e Freguesia x Galeão, Via Cacuia, ambas ao preço de Cr$ 1,50 (um cruzeiro e cinquenta centavos), sendo que nenhuma das duas linhas passava pela Praia da Bica (Jardim Guanabara), o que deixava os moradores em uma situação difícil em relação aos transportes.

(Correio da Manhã, 12/02/1950)

[Declarações de um motorista da Paranapuan – hoje ainda morador da Ilha, com 83 anos de idade –, obtidas pelo historiador Jaime Moraes e do próprio Jaime Moraes]

Na foto abaixo, um REO da EMO, no Galeão. Eles eram de motor traseiro ou também usavam os International, todos pintados de creme com acabamentos ou faixas em azul marinho. Se o tempo estivesse bom, ou seja, permitisse, circulavam do Galeão para a Freguesia e para a Ribeira junto aos ‘Detefon’, e ocasionalmente com  os Scania Vabis, com carroceria Grassi.

Temos aqui o exemplo de um Grassi circulando em apoio às linhas internas, “perdido” na Estrada do Galeão, ainda sem a pavimentação. Devido ao tipo desta, cor da pintura azul marinho na dianteira e sujo de lama, foram apelidados de ‘Boi da Cara Preta’.

Ônibus REO da EMO (A Noite, 04/05/1949)

Ônibus International da EMO (Correio da Manhã, 12/02/1950)

Ônibus Grassi da EMO (Correio da Manhã, 12/02/1950)

Agora, duas vistas do interior da Ilha após o Galeão, ou seja os itinerários tomados pelas duas linhas de ligação. Podemos ver o estado das pistas, mesmo em obras e com máquina trabalhando na pista. A viagem nada tinha de agradável.

(Correio da Manhã, 12/02/1950)

Para tentar sintetizar o que aconteceu, a concessão dada inicialmente seria para Emygdio Luiz de Freitas (ver matéria da Empreza E. L. Freitas), mas a empresa que tinha e explorava as linhas internas não possuía estrutura suficiente, contentando-se então com uma linha entre Bonsucesso x Ilha do Governador, a qual durou pouco tempo e que provavelmente era a Viação Continente-Ilha Ltda.

Então a solução encontrada foi ceder provisoriamente a nova linha a uma empresa já estabelecida na cidade, no caso a EMO. No entanto, a Ilha possuía pouquíssimas ruas pavimentadas e os ônibus urbanos convencionais certamente não iriam resistir por muito tempo à lama e aos buracos.

Optaram por operar a linha com dois tipos de ônibus: a linha 8, Mauá x Freguesia, utilizaria veículos REO de motor traseiro, iguais aos que trafegavam na linha 51, Castelo x Lagoa, fazendo somente o trajeto Praça Mauá x Galeão. Chegando ao Galeão, próximo à atracação das barcas, os passageiros fariam a baldeação para um dos antigos ônibus “Guy” e que seguiriam o trajeto restante até a Freguesia. Suas enormes rodas passavam por qualquer buraco mais profundo. A viagem da Praça Mauá até a Freguesia demorava mais de hora e meia.

Como a solução era provisória, tão logo foi organizada uma nova empresa, no caso a Paranapuan, os ‘Gilda’ e ‘Detefon’ saíram de circulação, o que ocorreu cerca de um ano e meio após a inauguração da ponte.

Acredito que tenha ficado mais fácil para compreender.

[Declarações do historiador Jaime Moraes]

Encerrando o assunto EMO na Ilha, informamos que no projeto de estatutos da futura empresa Transportes Paranapuan S/A, de agosto de 1949, menciona-se que esta adquiriria o acervo da Viação Continente-Ilha Ltda., bem como os direitos da concessão ‘Ilha do Governador’ da EMO.

Também a repercussão da “negociata” entre a Paranapuan, EMO e Prefeitura, com respeito à concessão das linhas 8 – Praça Mauá x Freguesia e 7 – Praça Mauá x Ribeira, incluindo a participação do Sr. Castro e Silva, como diretor de ambas empresas e também da TURI. Considerando também que a Copanorte solicitou concessão para operar uma linha do Centro à Ilha e não teve sua concessão autorizada.

(Imprensa Popular, 17/05/1951)

Em anúncio publicado, tomamos conhecimento de mudança no endereço do escritório para a Av. Churchill, 94, sobreloja, no Centro (1) e da empresa para a Av. Guilherme Maxwell, 210, Bonsucesso (2).

Assim como mostramos na matéria da TURI, seguem o modelo (frente e verso) dado por um vereador para viajarem de graça nos veículos das duas empresas, no dia das eleições de 1950. Atentem que nesse ano a empresa não mais operava a linha 100.

Passes de gratuidade para linhas de ônibus da EMO e TURI 

Em 1950, a empresa começa a operação da linha 9 – Praça Harmonia x Mourisco, até 1951, posteriormente Praça Harmonia x Bairro Peixoto, de 1951 a 1959, e em conjunto com a TURI em 1959. Mais tarde substituída por 178 e passada para a Transmontana, que chegou a esticá-la até a Gávea.

[Informações do livro 'Guerra de Posições na Metrópole'] 

Anexo um REO operando essa linha.

Ônibus REO 'Gilda' da EMO, linha 9 - Mauá x Mourisco (1952)

Fichas usadas pela EMO, durante os anos 50:


Já em 1951, ela inicia a operação de uma linha que fora operada pela Lubrasa, a 115 – Estrada de Ferro x Laranjeiras, de 1951 a 1957; de 1958 a 1963, em conjunto com a TURI, e substituída pela 184, de 1963 a 1969, operada somente pela EMO.

[Informações do livro ‘Guerra de Posições na Metrópole’] 

Ônibus Grassi da EMO (Última Hora, 1956)

Operou também a linha 102, que havia sido da Relâmpago, Praça Saenz Peña x Largo Machado, de 1957 a 1963; operada em conjunto com a TURI, substituída pela 405; e de 1963 a 1969, somente a EMO.

[Informações do livro ‘Guerra de Posições na Metrópole’]

Ônibus GMB da EMO, linha Saenz Peña x Largo do Machado

Ônibus Grassi da EMO (Última Hora, 1958)

Em 1963, a TURI foi anexada à EMO, devido a portaria da prefeitura limitando a uma quantidade mínima os ônibus das empresas cariocas.

Anexo modelo de ônibus CAIO operado pela EMO, na década de 60.

Ônibus CAIO da EMO, década de 60

A linha 101 – Praça Saenz Peña x Leblon, era operada pela Santa Cecília, até que a mesma faliu em 1964, e a EMO durante esse mesmo ano operou até a extinção da linha (3).

Em seu final de carreira, a EMO operou somente a linha 184, no que foi substituída pela Leblon.

Linhas operadas pela empresa:

1 – Hospital dos Servidores x Aeroporto, de 1948 a 1952, extinta;
8 – Praça Mauá x Galeão e Galeão x Freguesia, na Ilha do Governador, de 1949 a 1951;
9 – Praça Harmonia x Mourisco, 1950 e 1951; Praça Harmonia x B. Peixoto, 1951 a 1959 e com a TURI em 1959;
51 – Castelo x Lagoa, de 1948 a 1952;
52 – Castelo x Jockey Clube, de 1948 a 1953;
100 – Largo do Maracanã x Praça Nossa Senhora da Paz, de 1948 a 1949;
101 – Praça Saenz Peña x Leblon, em 1964, em substituição à Santa Cecília, extinta;
102 – Praça Saenz Peña x Largo Machado, de 1957 a 1963, operada em conjunto com a TURI, substituída pela 405, de 1963 a 1969, somente a EMO;
115 – Estrada de Ferro x Laranjeiras, de 1951 a 1957, de 1958 a 1963, em conjunto com a TURI, substituída pela 184, de 1963 a 1969, somente a EMO.

Referências:

(1) – Diário Carioca, 17/05/1950;
(2) – Jornal do Brasil, 07/03/1951 e
(3) – DOU/DF, 1964.

[Pesquisa de Eduardo Cunha e Claudio Falcão]

2 comentários:

  1. Pesquisando sobre o assunto, descobri que os ônibus "Gilda" , tal como aquele da Linha 51, não são de fabricação REO ( aquele da Linha 1, sim, é um REO. Os demais são de fabricação Ford, modelo " Transit", com motor V8 Traseiro.
    Lembrando que a TURI operou a linha 208 Castelo Bancários em 1959, quando foram apelidados de "Boi da Cara preta" devido a pintura azul marinho na frente.
    Parabéns pelo excelente trabalho !

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    1. Jaime, seja sempre bem-vindo e grato pelos elogios e demais comentários. Muito bom saber que os "Gildas", não eram REO e ótima lembrança sua da linha 208, explorada pela TURI que você já havia me dito, e eu esqueci de incluir na matéria, bem como a linha 9 da TURI, também. Irei alterar as matérias, EMO e TURI, incluindo essas correções. Abraços e esteja sempre conosco divulgando seus conhecimentos.

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