Aqui começamos a mexer em um outro tipo de ‘vespeiro’, um dos muitos que a viação carioca teve e tem, que vem de muitos anos atrás. É uma verdadeira epopeia e parece ser transmitida - não de pais para filhos como os whiskies escoceses -, mas de empresários para empresários, durante quase um século, como se fosse um verdadeiro monopólio, atualmente mais pulverizado.
Estamos entrando
na história de um ‘senhor’ empresário do século XX, mais especificamente dos
anos 1920 a 1940, que deteve um poderio composto de garagens, empresas envolvidas
com o ramo dos transportes, quer seja através da importação e aluguel de autos
de luxo, como também a importação de chassis e motores para confecção de
carrocerias e venda de ônibus prontos, representação e manutenção de veículos e
também, entre outras atividades, a exploração de linhas de transportes coletivas
urbanas e interestaduais de ônibus, tudo isso com o seu império montado na
Tijuca. Foi um ‘senhor’ empresário, ao qual devemos uma grande fatia da
prosperidade da nossa cidade no antigo Distrito Federal, à época.
Como a sua
caminhada foi longa, começamos em termos de transportes coletivos, por onde ele
iniciou singela e calmamente na zona rural do Rio de Janeiro, como eram chamados
naqueles anos os bairros da atual zona oeste carioca, conforme termo assinado
em 26/04/1924. E nada mais justo para a empresa que chamar-se Viação Suburbana.
Seu proprietário era o Sr. Mário Bianchi, com razão social Bianchi & Cia.
(Correio da Manhã, 02/11/1941) |
Entre
1924 e 1931, a empresa, cuja garagem era na Estrada da Taquara, nº 60, em
Jacarepaguá, operou as seguintes linhas Taquara – Largo do Tanque x Rio Grande,
futura S-21 e S-32; Taquara x Vargem Grande; Taquara x Madureira; Irajá x
Madureira; Madureira x Vicente de Carvalho (via Cascadura e Cavalcanti); e
Cascadura x Freguesia. Duas dessas linhas são comprovadas através dos recortes
abaixo.
Mas uma das suas primeiras linhas foi a Cascadura x Freguesia (de Jacarepaguá), passando pela Praça Seca, Tanque e Taquara, inaugurada em 18 de agosto de 1926.
Mas uma das suas primeiras linhas foi a Cascadura x Freguesia (de Jacarepaguá), passando pela Praça Seca, Tanque e Taquara, inaugurada em 18 de agosto de 1926.
(A Noite, 13/08/1926) |
(Jornal do Brasil, 03/11/1927) |
(O Paiz, 01/07/1928) |
Em 1931, a
empresa adquiriu a concessão da linha Campo Grande x Carapiá, futura S-52,
concedida a Alexandre Marcondes dos Santos (http://rionibusantigo.blogspot.com.br/2014/04/alexandre-marcondes-dos-santos.html)
em 1929. Carapiá é uma estrada no bairro de Guaratiba.
Além disso, operou as linhas Campo Grande x Pedra de Guaratiba, futura S-51; Méier x Cachambi e Cascadura x Jacarepaguá.
Além disso, operou as linhas Campo Grande x Pedra de Guaratiba, futura S-51; Méier x Cachambi e Cascadura x Jacarepaguá.
(Jornal do Brasil, 25/09/1931) |
E ainda nessa década, a empresa teve oportunidade de explorar outras linhas, como a S-1, Méier x Madureira – Osvaldo Cruz – Mal. Hermes, até 1954 (essa última operada em conjunto com a Renascença, durante alguns anos); e Cascadura x Ricardo de
Albuquerque, futura S-28, concessão cassada em 1941.
Assim como
experimentou vários tipos de intempéries, como mostram os seguintes recortes.
(A Noite, 23/07/1934) |
(A Noite, 22/05/1936) |
(A Noite, 25/10/1937) |
(A Noite, 04/05/1939) |
Ônibus Méier, da Viação Suburbana (O Globo, 20/08/1936) |
Em ‘A Noite’,
04/05/1939, pág. 3, é publicada a notícia de um incêndio ocorrido na garagem
“Bianchi”, de propriedade de Mário Bianchi, situada à Estrada da Taquara, nº 60,
Jacarepaguá, onde foram atingidos nove ônibus da Viação Suburbana, das linhas
Madureira x Méier (S-1) e Madureira x Irajá, essa a futura S-22, operada a partir de 1942 pela Viação Santos Dumont e posteriormente pela Sociedade Cooperativa.
Já a década de 40, mal começou e não teve futuro para o ilustre empresário, pois em 30/12/1940 ele foi assassinado dentro da própria garagem da empresa, por um funcionário seu, conforme anunciam as matérias abaixo.
‘A Noite’, 30/12/1940, págs. 1 e 2:
“Assassinado o Sr. Mario Bianchi
Era o proprietário da Viação Carioca e de outras empresas de transporte
– Como se verificou o crime – O matador é um eletricista polonês
Notas: 1) Notícia de capa, com fotos de Mário Bianchi e do assassino;
2) Do texto foram retiradas as seguintes informações: a) Era proprietário da
Companhia de Ônibus Viação Carioca, que explorava a linha de ônibus Ipanema x
Tijuca, de cor vermelha escura e da Viação Picorelli, que fazia as linhas Rio x
Petrópolis e Juiz de Fora-Rio; b) Escritórios, oficinas e garagem da Viação
Carioca: Rua Conde de Bonfim, 821; c) Mário Bianchi era casado com D. Prazeres
[Garcia] Bianchi, tendo três filhos: Mário, Trieste e Vera e residia à Rua
Conde de Bonfim, 824”.
‘A Noite’, 02/01/1941, pág. 8:
“Tendo sido assassinado na tarde
de segunda-feira [30/12] o industrial Mário Bianchi, proprietário da Viação
Carioca, na terça-feira às últimas horas do expediente forense foi distribuído
o seu inventário à 3ª Vara de Órfãos e Sucessões, requerido por sua esposa”.
‘A Noite’, 06/01/1941, pág. 7:
“Comunicados
+ Mario Bianchi
“As empresas Viação Carioca, Brasileira de Ônibus, Viação Suburbana,
Viação Cruzeiro do Sul, Picorelli e Rio-Minas, mandam celebrar em sufrágio da
alma de seu inesquecível chefe, MARIO BIANCHI, missa solene de sétimo dia, na
Igreja da Catedral, altar de Nossa Senhora da Cabeça, no dia 7 do corrente, às
10,30 horas da manhã e convidam para assistir ao ato religioso todos os
parentes e amigos”.
A partir de 1941, a
empresa, durante o espólio, foi administrada e teve sua razão social alterada
para Prazeres Bianchi. Em 1947 foi criado um escritório na Rua Silva Gomes, nº 15, em Cascadura, época em que a viúva contou com ajuda de Amorim Godinho de
Almeida, empresário já conhecido, na administração da empresa, até 1952.
Como se vê, a década de
40 não foi muito estável para a Suburbana.
(Correio da Manhã, 06/11/1949) |
A década de 50 marcou a
existência de uma das linhas mais antigas, ainda circulantes na cidade, a S-76 –
Praça Saenz Peña x Cascadura – Madureira – Mal. Hermes, atual 638, antiga 76.
N. do E.: O prefixo ‘S’
antes de um número de linha, significava que a linha era Suburbana e tal termo
só se atribuía a linhas que partiam da Zona Norte para a Zona Oeste ou Zona Norte,
Zona Rural, como eram conhecidas, e não obrigatoriamente a linhas que partiam da
Tijuca, como era o caso da 76. Ela só recebeu o prefixo S e ficou sendo S-76,
na década de 50, mais exatamente em 58 quando a Penha x Vigário Geral, da
Estrela do Norte, foi extinta.
Ônibus da linha S-76, circulando pelo Méier (acervo de Prazs-Edegar) |
Ônibus da linha S-76, chegando à Praça Saenz Peña (ano: 1958) |
(O Globo, 30/12/1955) |
Mas marcou também pelos desfalques à companhia, pelos seus próprios funcionários.
(Correio da Manhã 18/02/1951 - aqui teria havia um equívoco do jornal, pois o endereço era à Rua Carolina Machado) |
Existiram também as linhas, S-77, Saenz Peña x Guadalupe, de 1950 a 1959, quando foi extinta; a linha 77, Candelária – Praça Mauá x Mal. Hermes, em 1952, linha paralisada conforme DOU de 03/05/1952.
Nessa década tivemos
duas trocas de razão social, sendo em 1952 para A. Fernandes Nunes e em 1955
para Euclides Neves, até 1965.
Em 1958, a Suburbana operou a linha 204, Castelo x Bangu, que seguia o seguinte itinerário: Praça Presidente Antônio José de Almeida, Av. Presidente Antônio Carlos, Rua Nilo Peçanha, Av. Rio Branco, Av. Presidente Vargas, Av. Francisco Bicalho, Av. Brasil, Rua Prefeito Olímpio de Melo, Rua São Luís Gonzaga, Largo do Benfica, Av. Suburbana, Ponte de Cascadura, Av. Ernani Cardoso, Estrada Intendente Magalhães, Av. Santa Cruz e Estação de Bangu, conforme informações e foto, cedidos por ‘Pesquisas Marcelo Prazs’.
Na década de 60, além da linha 638, há a operação da 639, Praça Saenz Peña x Cascadura – Rocha Miranda e a absorção das concessões das linhas 781 e 782, Cascadura x Mal. Hermes, via Praça Seca e via Rocha Miranda, que foram ambas (781 e 782), anteriormente exploradas pela Empresa de Transportes Pereira Santos Ltda. e pela Auto Viação Kennedy S/A. Abaixo um exemplar da Suburbana, na 782. Tinha sua garagem na Rua Carolina Machado, nº 2.150, em Marechal Hermes.
Ônibus da linha 204, da Viação Suburbana - 1956 (imagem cedida por Marcelo Prazs) |
Na década de 60, além da linha 638, há a operação da 639, Praça Saenz Peña x Cascadura – Rocha Miranda e a absorção das concessões das linhas 781 e 782, Cascadura x Mal. Hermes, via Praça Seca e via Rocha Miranda, que foram ambas (781 e 782), anteriormente exploradas pela Empresa de Transportes Pereira Santos Ltda. e pela Auto Viação Kennedy S/A. Abaixo um exemplar da Suburbana, na 782. Tinha sua garagem na Rua Carolina Machado, nº 2.150, em Marechal Hermes.
Nesse mesmo ano a
empresa foi flagrada desrespeitando a tabela de preços definidos pelo BTU (Bureaux
dos Transportes Coletivos), conforme mostra a matéria anexa
Em 1965, tivemos
mais uma troca de razão social, desta vez para Viação Suburbana Ltda. Ela foi a
última a substituir a pintura tradicional, amarela, vermelha e branca. Seus
números de ordem, nas devidas épocas, foram 855x e 185xx.
Ela foi
adquirida, em 1981, pela Auto Viação Três Amigos S/A.
[Demais
informações oriundas do site MILBUS, e
publicações ‘Guerra das Posições na Metrópole’, PDF e DOUDF.]
[Pesquisa de
Eduardo Cunha e Claudio Falcão]