domingo, 22 de fevereiro de 2015

Viação Elite

Antes mesmo do Termo de Obrigação ter sido assinado, temos um recorte informando da apresentação dos ônibus e inauguração da linha, na época 10 , Central x Balneário da Urca, operada pela Viação Elite.

Sua fundação foi em 20 de julho de 1933, tendo a garagem na Tv. das Partilhas, s/n (Centro, atual Costa Ferreira).

(Diário da Noite, 08/05/1933)

E também antes da assinatura, um acidente com um dos seus veículos na Praia do Flamengo.

(A Noite, 17/06/1933)

Quando da assinatura, em 12 de julho de 1933, Roberto J. Schmidt, razão social da Viação Elite, assinava junto à Inspetoria de Concessões da PDF, termo de obrigação, comprometendo-se a estabelecer um serviço regular de transporte de passageiros para a linha Estação Central da E.F.C.B. x Balneário da Urca.

O itinerário era: Estação Central, Rua Marechal Floriano, Rua Visconde de Inhaúma, Av. Rio Branco, Av. Beira Mar (Praias do Russell, Flamengo e Botafogo), Av. Pasteur, Rua Ramon Franco, Rua Marechal Cantuária, fazendo ponto terminal na praça existente no cruzamento da Rua Irineu Marinho com a Rua Octavio Corrêa.

E suas seções: Estrada de Ferro ao Monroe, $300 (trezentos réis); Rua Camerino ao Monroe, $200 (duzentos réis); Rua Camerino ao Pavilhão Mourisco, $600 (seiscentos réis); Monroe ao Pavilhão Mourisco, $400 (quatrocentos réis); Pavilhão Mourisco ao Balneário da Urca, $200 (duzentos réis) e direta, $800 (oitocentos réis).

A garagem era na Rua Gonzaga Bastos, nº 58, na Vila Isabel (1).

Essa mesma informação é noticiada, conforme matéria abaixo, em outro jornal, na mesma data.

(Diário da Noite, 14/07/1933)

Após alguns meses da inauguração, ocorre a primeiro termo de transferência, em 08 de setembro de 1933, de Roberto J. Schmidt para R. Schmidt & Cia. (representantes: Roberto J. Schmidt, Affonso do Amaral Rosas e Mário do Amaral Rosas) (2).

Uma segunda garagem é identificada à Rua Moncorvo Filho, nº 35, no Centro.

(Diário Carioca, 28/06/1935)

Uma terceira “garagem” é identificada, na Rua Muniz Barreto, também nº 35, em Botafogo, se é que pode e/ou deve ser chamada de garagem, conforme mostra a imagem do local, que além das reclamações dos vizinhos, há também a falta de higiene e o descaso dos órgãos competentes.

(Diário de Notícias, 04/09/1936)

Duas informações, supostamente iguais, porém em dois jornais diferentes e com informações contraditórias em relação às linhas e o número do ônibus, além da linha do bonde, referentes a uma batida entre ambos os veículos. 

(A Noite, 15/04/1937)

(Diário da Noite, 15/04/1937)

Supostamente a década de 30 não estava muito boa para a Elite. Vejam a notícia sobre o incêndio no “barracão garagem”, para piorar. E poderia ser muito mais contundente!!!

(A Noite, 31/07/1937)

Através do próximo recorte, identificamos uma nova linha da Elite, Palace Hotel x Barata Ribeiro.

(A Noite, 23/07/1940)

Essa linha é a 53, conforme mostra o outro recorte.

(A Noite, 09/08/1941)

Como já havia sido informado em outra matéria, a Elite também participou do pool das empresas que operaram a linha 1, Praça Mauá x Monroe, com um veículo.

(A Noite, 11/05/1942)

Como também divulgado para outras empresas, devido à escassez de combustíveis durante a II Guerra Mundial, a Elite adotou o uso de gasogênio em alguns de seus ônibus.

(A Noite, 17/07/1942)



(Diário da Noite, 17/07/1942)

Alguns comentários, quiçá boatos maldosos, devem ter surgido, a ponto de a empresa divulgar as matérias pagas, mostradas a seguir.

(A Noite, 11/08/1942)

(Correio da Manhã, 11/08/1942)

(A Noite, 04/09/1942)

Anúncio veiculado, mostrando a junção de empresas responsáveis pela confecção, instalação e garantia da utilização dos aparelhos de gasogênio, nos ônibus cariocas, incluindo a Elite.  

(A Noite, 12/08/1942)

Conforme informação, há a troca de razão social para Viação Elite S/A, constituída em 27 de fevereiro de 1943 (3).

Na foto a seguir, a amostra de uma ficha usada pela empresa na década de 40, bem como de um ônibus, na linha 13, logo adiante.

Ficha da década de 40 – Viação Elite


Ainda durante a Guerra Mundial, e com ônibus a gasogênio, inicialmente com 12 e previsão para 20 carros, é inaugurada a nova linha da Elite, a 20 – Mauá x Grajaú. 

Seu itinerário era: Praça Mauá, Av. Rio Branco, Av. Mal. Floriano, Av. Getúlio Vargas, Av. Paulo de Frontin, Rua Santa Amélia, Rua Dr. Satamini, Rua São Francisco Xavier, Rua Almirante Cochrane, Praça Saenz Peña, Rua General Roca, Rua Pereira Nunes, Rua Teodoro da Silva, Rua Barão do Bom Retiro, Rua Itabaiana, Rua Mearim e Rua Borda do Mato, próximo à esquina da Rua Juiz de Fora.

E suas seções: Praça Mauá à Rua Tomé de Souza, Cr$ 0,20 (vinte centavos); Praça Mauá à Praça Afonso Pena, Cr$ 0,60 (sessenta centavos); Praça Afonso Pena à Rua Barão de São Francisco Filho, Cr$ 0,40 (quarenta centavos) e Rua Barão de São Francisco Filho ao Grajaú, Cr$ 0,20 (vinte centavos). Passagens inteiras, Praça Mauá à Rua Barão de São Francisco Filho, Cr$ 0,80 (oitenta centavos) e Praça Mauá ao Grajaú, Cr$ 1,00 (hum cruzeiro).

(A Noite, 28/12/1943)

(Diário da Noite, 28/12/1943)

A empresa aumenta seu número de linhas novas – desconhecidas até para nós que tratamos do assunto –, e com seu número desconhecido, fazendo, como mostra a nova matéria, Largo da Carioca x Forte de Copacabana.

E de tabela, cita a manutenção de uma linha concedida à Viação Relâmpago, Praça Saenz Peña x Praça Duque de Caxias (Largo do Machado) e a autorização de aumento de carros para a Renascença.

(A Noite, 03/01/1944)

(Diário da Noite, 03/01/1944)

Neste mesmo ano, já temos um acidente com um veículo da linha 20.

(Diário da Noite, 12/05/1944)

Os três próximos recortes retratam a grande preocupação dos usuários com o atendimento da Elite, na linha 20, devido à pouca quantidade de veículos e ao excesso de passageiros, graças à demora entre os veículos.

A empresa se defende de algumas formas, entre elas: “Devido a um não atendimento rápido, a uma solicitação da Elite ao Conselho Nacional do Petróleo, não houve a possibilidade de aumentar sua frota, o que levou a população a reclamar da empresa, devido à quantidade insuficiente de ônibus para atendimento à linha 20”.

(A Noite, 27/03/1944)

(A Noite, 22/04/1944)

(A Noite, 15/05/1944)

Assim como a Viação Grajahú, a Viação Elite também adotou o uso de trocadoras, com todos os charmes que lhes são (ou eram) possíveis, inclusive uso de maquiagens e do imprescindível batom. Agora sabemos por que alguns homens chegavam em casa com marcas de batom...

Elas estrearam na Elite, na linha 53, pela ausência de rapazes que foram chamados para o serviço militar, principalmente pela II Guerra Mundial. Elas foram “convocadas” para substituí-los e já pensavam em continuar no cargo após o final da guerra.

Nota do Editor: Atentem, por curiosidade, no rodapé da foto do segundo recorte, que na época ainda era adotada a palavra portuguesa “bicha”, para representar a “fila”.

(A Noite, 30/06/1944)

(A Noite, 06/07/1944)

E mais uma vez, os moradores do Grajaú, vão ficar sem ônibus para atendê-los. Em menos de três anos de circulação, através de uma concessão dada a título precário, a linha 20 seria encerrada no final de semana, por alguns problemas técnicos e outros financeiros, e somente com três veículos circulando.

(A Noite, 19/07/1946)

Aqui temos a relação das três linhas operadas pela empresa.

(Diário da Noite, 01/11/1948)

Agora, imagem de uma ficha usada pela empresa na década de 50 e também de alguns ônibus, nas linhas 13 e 54.

Ficha da década de 50 – Viação Elite





E quando os órgãos públicos “competentes” não se entendem, acontece isso entre a Prefeitura e o Departamento de Trânsito.

(Diário Carioca, 28/06/1952)

(Diário Carioca, 02/07/1952)

Depois de tantas idas e vindas, foi necessária a interferência de um juiz da Vara Pública, para restituir a linha 53, Mauá x Leblon, à circulação, à Elite e ao público, que foi o maior afetado nesta discórdia entre os órgãos.

(Diário de Notícias, 04/07/1952)

Agora, imagem de uma ficha usada pela empresa na década de 60 e desenho e uma foto de ônibus dessa época.

No final da década de 60, a Elite adquiriu os veículos e as concessões de linhas que pertenciam à Viação Marta S/A, coincidentemente empresas com o mesmo tipo de desenho/pintura e cor – um verde quartel –, para operar as linhas 336 e 343.

A foto de baixo é de um ônibus operando em uma das linhas que pertenceram à Marta.

Ficha da década de 60 – Viação Elite S.A.



Percebe-se pelo texto a seguir, que a Elite já não estava “bem das pernas”, e que em breve sucumbiria. 

Leiam o texto publicado: “A situação da Viação Elite também deverá ser definida nos próximos dias. A empresa deve ser absorvida pela Viação Columbia, que conta atualmente com uma frota de 72 veículos convencionais e opera na Penha” (4).

Assim mais uma grande empresa na história dos transportes cariocas desaparece, sendo absorvida por outra antiga, que posteriormente também desapareceu. É a história que conta e a vida que passa.

Linhas operadas pela empresa:

= 1942, 1 – Praça Mauá x Monroe
= 1933 a 1936, 10 – E. de Ferro x Balneário da Urca, substituída pela 13
= 1937 a 1963, 13 – E. de Ferro x Urca, substituída pela 107
= 1946, 20 – Praça Mauá x Grajaú
= 1937 a 1954, 53 – Palace Hotel x Praça E. Jardim, Castelo x R. Barata Ribeiro e Praça Mauá x Leblon
= 1944 a 1952, 54 – Castelo x Praça E. Jardim e Castelo x R. Barata Ribeiro
= 1967 em diante, 107 – E. de Ferro x Urca
= de 1969 em diante, 336 – Praça 15 x Cordovil – Vista Alegre
= de 1969 em diante, 343 – Candelária x Vista Alegre – Cordovil

Referências:

(1) – Jornal do Brasil, 14/07/1933.
(2) – Jornal do Brasil, 10/09/1933.
(3) – Informação do site MILBUS.
(4) – Jornal do Brasil, 30/08/1981.

[Pesquisa de Eduardo Cunha e Claudio Falcão] 

8 comentários:

  1. Sensacional!!!
    (Emilson França)

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    1. Emilson, muito obrigado pelo comentário. A opinião e visita de você, e de todos que aqui vem, é espetacular e muito importante parra nós pois nos incentiva a conseguir mais informações e empresas existentes para mostra. Grato e volte sempre. Abraços,

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  2. Emilson, muito obrigado pelo comentário. A opinião e visita de você, e de todos que aqui vem, é espetacular e muito importante parra nós pois nos incentiva a conseguir mais informações e empresas existentes para mostra. Grato e volte sempre. Abraços,

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  3. Prezado Eduardo,

    Excelente matéria sobre a Viação Elite. Tenho por essa empresa particularmente um carinho especial, pois foi nela que fiz minhas primeiras viagens. Você relata muitas coisas que não sabia, como as garagens do Centro e detalhes do galpão-garage da Muniz Barreto. A empresa também teve garagem na rua Assunção, 260 e 278 (fonte revista Guia Rex de 1963). Em 1936, a Elite compra a Viação Glória que tinha a linha Palace Hotel x Eugênio Jardim (linha 53), que durou até a década de 40. A linha 20 foi criada em 1943. Entretanto, a linha era deficitária. Numa entrevista ao jornal Diário da Noite, o ex-dirigente da empresa e do América F.C., Álvaro Bragança, informa que a linha, que já chegou a ter 30 carros, operaria até 21 de julho de 1946 com somente 3 carros, pois a linha só trazia prejuízos.
    Em 1967, a empresa, que só tinha a 107 (antiga 13), tinha somente 22 carros. Foi quando se fundiu com a Viação Marta, ficando com a concessão da 336 e 343. A confusão das vistas da 336 e 343 começou na Viação Marta, quando esta para aumentar a passagem mudou as vistas mas manteve os itinerários, assim a 336 que era Vista Alegre passa a ser Cordovil (mesmo fazendo ponto final na pça. Ponta Porã) e a 343 passa a ser Vista Alegre (mas com ponto final ainda na pça. São João Berchmans). A correção só foi feita quando as linhas já estavam na Columbia.
    A frota de 21 carros por linhas parace ser pequena devido à demanda e aumento dos intervalos, que causava já insatisfação dos passageiros. Lembro-me de um dia de chuva, a sair do largo de São Francisco, embarcamos num Metropolitana 17526 que enguiço na Pres. Vargas, pegamos um Onuf II 17555 que enguiçou na Francisco Bicalho e, finalmente, seguimos viagem num terceiro carro que não me lembro qual foi.
    Todos os Metropolitanas Onuf I circulavam na 107. Em 1979 começa a adquirir novos Caio Gabriela II (17508, 17522) para substituir os Metropolitanas mais antigos. Em 1980 a empresa cria a 941 – Vista Alegre x IAPTEC (circular), auxiliar da 336 e 343.
    A Elite muda sua identidade visual em 1980, quando adquire um lote 0 km de Ciferal Paulista, em substituição aos já cansados Caio Jaraguá e Metropolitanas. Os Metropolitanas Onuf II (como o 17512 da foto que você postou) e Ipanema receberam na nova pintura. Entretanto, a empresa só tinha 64 carros quando foi criado o decreto para a frota mínima de 120 carros por empresa. Como você disse, a Columbia a absorveu, exceto a 107 que foi para a Transportes Mosa (que era do mesmo grupo da Columbia). A última garagem da Elite ficava na avenida Brás de Pina, 1.952, onde depois foi construído o supermercado Prezunic. A garagem à note ficava tão cheia que alguns carros dormiam fora da garagem (cerca 10 carros). Tenho a relação completa dos modelos dos 64 carros da Elite quando esta encerrou suas atividades.
    Mais uma vez parabéns e obrigado.
    Abraços, Antonio Sérgio.

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  4. Prezado Antonio Sérgio, grato pela informação com uma tremenda riqueza de detalhes. Grato também ao elogio a matéria e em breve irei refazê-la com tuas informações. Abraços, Eduardo.

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  5. Abordagem espetacular e inigualável como sempre..... Apenas uma observação, Cunha. Aquele Twin Coach pertence a Viação Relâmpago e não a Elite. '''(Twin Coach da Viação Relâmpago operando a breve linha 56 - Castelo x Leblon via Rua Francisco Otaviano em 1953).''' Olha a minha pesquisa: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=871707392946191&set=a.838435659606698.1073741862.100003208150978&type=3&theater

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    1. Prazs, se você puxar um zoom da imagem, no letreiro está linha 54 e não 56, como você cita. E se olhar no final da reportagem, eu não cito a Elite operando a 56 em nenhum lugar. Grato pela visita e continue nos prestigiando. Abraços.

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