domingo, 28 de junho de 2015

Viação Relâmpago

A Relâmpago tem uma característica diferente das outras empresas, somente parcialmente similar à Estrela do Norte, pois ela começou como uma empresa de carga “porta a porta”, entre Rio de Janeiro e São Paulo, com o nome de Empresa de Transportes Relâmpago, e razão social Abreu Teixeira & Cia. Ltda.

(A Noite, 19/11/1940)

Já em novembro de 1943, Abreu Teixeira & Cia. Ltda. solicitam concessão para explorar o transporte coletivo urbano na linha Praça Saenz Peña x Praça Duque de Caxias (Largo do Machado), a qual o prefeito da época deferiu o pedido.

(A Noite, 23/11/1943)

Conforme o próximo recorte mostra, o deferimento deu chance de reclamações da Carioca e da Central, mas foi mantido. Também foram mantidas as autorizações para a Renascença colocar 4 novos veículos, e a Elite criar a linha Largo da Carioca x Forte de Copacabana.

(A Noite, 03/01/1944)

E tanto foi que aconteceu, aqui temos o batismo da Viação Relâmpago (nome fantasia da empresa) na citada linha e atentem, filiada à Omnibus de Luxo. E como ela não entrou para brincadeira, inauguraria a linha com 10 carros novos. A linha em questão era a 102.

Seu itinerário era Praça Duque de Caxias, Rua do Catete, Largo da Glória, Av. Beira-Mar, Lapa, Rua do Passeio, Rua Treze de Maio, Largo da Carioca, Rua Uruguaiana, Av. Presidente Vargas, Rua Mariz e Barros, Rua Almirante Cochrane, Praça Saenz Peña e vice-versa.

O preço da passagem inteira era de Cr$ 1,00 (um cruzeiro) e as seções de Cr$ 0,20 (vinte centavos).

(A Manhã, 14/10/1944)

Apesar da matéria um tanto quanto confusa, podemos subentender que, a partir de outubro de 1946, a Limousine Federal ficou somente com as linhas 12 e 68, e então entrou a Relâmpago para operar a linha 3.

Aqui já temos a informação da existência da linha 64, Castelo x Ipanema, operada pela Relâmpago, porem não sabemos desde quando, com certeza.

A citação de ônibus grandes nos associa aos GMC importados por ela.

(A Noite, 03/10/1946)

Um exemplo da ficha utilizada pela empresa, na década de 40:

Ficha da década de 40

Nos dois próximos recortes é dada a concessão para exploração da linha 3 – Castelo x Ipanema, e comprovada nesse documento, apesar de um tanto quanto ilegível.

(Boletim da PDF)

À primeira vista, tirando a confirmação da inauguração da linha 3, a matéria também é um pouco confusa, visto que cita a linha sendo operada por duas empresas, sendo uma desconhecida, Expresso Transportes Brasileiro, apesar da concessão ser da Abreu Teixeira & Cia. Ltda. O ônibus da foto é um White.

(A Noite, 01/11/1946)

Entretanto, achamos informações sobre a Expresso Transportes Brasileiro, e descobrimos que a mesma fazia transporte de cargas entre Santos e São Paulo.

Particularmente, acreditamos que a Brasileiro estabeleceu-se em Santos, formando uma empresa urbana que operou nessa cidade com um nome mais conhecido por nós, Expresso Brasileiro de Viação.

(A Noite, 19/10/1939)

Essa empresa de carga era como a Empresa de Transportes Relâmpago, aqui no Rio de Janeiro, e foi comprada transformando-se também em parte da Abreu Teixeira & Cia. Ltda., agora com maior abrangência de rotas.

Com este próximo recorte podemos entender melhor a matéria onde é citada a operação da linha 3 pela Relâmpago e pela Brasileiro, mas naquele recorte não era necessária tanta informação pois deu a sensação que a linha seria operada por duas empresas, quando a segunda não existia como transportes de passageiros.

(A Noite, 19/01/1943)

Em 1946, uma nova concessão é dada à Relâmpago, para fazer a linha 103 – Praça Saenz Peña x Ipanema.

Seu itinerário era Praça Saenz Peña, Rua Almirante Cochrane, Rua Mariz e Barros, Praça da Bandeira, Av. Presidente Vargas, Av. Rio Branco (na volta, Rua Uruguaiana), Av. Beira-Mar, Av. Oswaldo Cruz, Praia de Botafogo, Mourisco, Rua Pasteur, Av. Wenceslau Braz, Túnel Novo, Av. N. S. de Copacabana, Rua Francisco Sá, Rua Gomes Carneiro, Praça Gal. Osório, Rua Visconde de Pirajá, até o Bar 20, em Ipanema e vice-versa.

Quando a frota estivesse completa operaria essa linha com 20 veículos, sendo dez GM Coach e dez White, todos novos em folha.

(A Noite, 13/12/1946)

A notícia é repetida em outro recorte completando informações, onde vemos que a empresa já opera a linha 64 – Castelo x Ipanema, além da 3, 102 e agora 103, e que recebera até fevereiro mais 30 carros, International, White e Chevrolet.

(O Globo, 13/12/1946)

Apesar do texto citar a linha 104, que é operada pela Independência, a matéria fala sobre aumento no preço nas passagens de algumas linhas de ônibus, que investiram na compra de veículos GMC, por serem luxuosos, confortáveis e caros, que merecem pelo investimento uma quilometragem mais alta, e servindo também para incentivo e exemplo ao uso por outras empresas.

(Correio da Manhã, 30/05/1947)

Aparece provavelmente o primeiro acidente com um carro da Relâmpago, onde seu motorista quase foi linchado e depois foi preso.

(A Manhã, 08/10/1947)

Aqui temos a informação da nova razão social, Viação Relâmpago S/A, endereço de sua garagem à Rua Maxwell, nº 516-520, no Andaraí, e as suas 6 linhas operadas, 3,  64, 102 e 103, além das novas, 56 – Castelo x Forte de Copacabana e 114 – Estrada de Ferro x Leblon.

(Diário da Noite, 01/11/1948)

Agora vemos um novo acidente entre a Relâmpago e a Carioca. Estariam correndo devido à animosidade existente entre as duas empresas, ou por falta de perícia ao volante, de seus motoristas? Teriam tido o devido treinamento nesses ônibus modernos e caros?

(Diário de Notícias, 28/11/1948)

De acordo com a interessante informação a seguir, foi declarada a falência da Viação Metrópole S/A, e foi citada como síndica a Relâmpago.

Pelo que apuramos, essa empresa operou as linhas S-18 e S-19. Posteriormente escreveremos sobre ela.

(A Noite, 30/07/1949)

Uma linda foto da Avenida Beira-Mar já engarrafada na década de 50, tendo em primeiro plano um ônibus da linha 3, em uma carroceria White, modelo novo.

Ônibus da linha 3, da Viação Relâmpago - anos 1950

Dois recortes diferentes mostram novamente uma batida de um GMC da empresa, contra um bonde. E as batidas começam a ser frequentes e volta a pergunta, falta de experiência para dirigir um ‘bichão’ desses, ou irresponsabilidade?

(A Manhã, 26/01/1950)

(Diário de Notícias, 26/01/1950)

Demoraram, mas começaram a aparecer reclamações sobre a prestação dos serviços aos usuários da empresa, principalmente na retirada de serviço do carro da meia-noite ou, quando isso não acontece, os carros passam desesperadamente pelos pontos sem pegar os passageiros que solicitam parada. Estamos falando da linha 64 – Castelo x Leblon.

(Diário de Notícias, 09/09/1950)

Imagem de ônibus operando a nova linha 108 – Aldeia Campista x Leblon, mudada em 1952 e 1953 para Rua Uruguai x Leblon.

Ônibus da linha 108, da Viação Relâmpago - 1951
(Arquivo da Memória do Ônibus Carioca - acervo Edegar Rios)

Em uma enquete feita por um jornal carioca, em uma das perguntas a Relâmpago ficou com mais pontos. O assunto tratado era sobre maior conforto e melhor serviço prestado à cidade.

(Diário da Noite, 25/10/1951)

Mais um GMC batido, desta vez em duas fachadas de prédios.

(Diário Carioca, 10/11/1951)

Outro GMC batido, na Casa Granado – Rua Conde de Bonfim.

Fachada da 'Casa Granado', Tijuca - anos 1950

Aqui é citada a correção das passagens e, em um caso, a unificação dos preços das seções da Carioca e da Relâmpago. Há também novos preços de seções da Universal, Independência e Nacional.

(Última Hora, 26/03/1952)

Imagem de garboso GMC da 105, Grajaú x Copacabana, linha essa que foi passada da Relâmpago para a Nacional em 1953.

Ônibus da linha 105, da Viação Relâmpago - 1953

Mais um acidente com o GMC, entre a Relâmpago e a Carioca, quase com certeza consequente de disputa por passageiros. Não é o primeiro caso entre as empresas.

(Diário da Noite, 19/01/1953)

Agora descobrimos, ao ser retirada de circulação uma determinada linha da Relâmpago, que ela explorava outra linha Castelo x Leblon, com o número 56.

(Última Hora, 04/03/1953)

A falta de peças importadas no mercado nacional, devido à proibição de um órgão federal, já causou a retirada de algumas linhas e veículos de circulação e também ameaça outras linhas de outras empresas, também a sentirem o mesmo efeito de terem suas linhas suspensas ou retiradas.

(Última Hora, 25/03/1953)

Dessa vez, o GMC da linha 64 – Castelo x Leblon, escolheu uma padaria para bater e ‘tentar fazer um lanchinho’ na mesma.

(Última Hora, 05/03/1953)

O prefeito da cidade, ao fazer uma vistoria, apareceu de surpresa na garagem da  Relâmpago e checou sobre se os horários dos ônibus estavam sendo respeitados.

(Diário de Notícias, 16/07/1953)

As reclamações contra a empresa começam, e é eleita a pior linha a 108 – Uruguai x Leblon, como mostra o recorte.

(Gazeta de Notícias, 08/05/1954)

E as reclamações continuam, devido à retirada e deslocamento da linha 102 para operar a linha Barão de Drummond x Leblon, não sabemos com qual numeração.

Por sua vez, também desconhecemos qual linha (80) e quais empresas (80 e 87) operavam essas duas linhas citadas.

(Diário de Notícias, 05/08/1954)

Mais uma vez reclamações contra a empresa, dessa vez pelo aumento da passagem sem autorização e demora no retorno ao preço correto.

Pelo que se lê na matéria, sua dívida quantitativa é muito alta, decorrente de multas, e deve ser executada pelo órgão fiscalizador. 

No detalhe, vemos que a empresa utilizava passagens em talões com o preço estampado.

(Diário de Notícias, 17/04/1955)

Novamente o problema das empresas devido à falta de peças para reposição dos veículos importados. Relâmpago e Nacional quase em estado de misericórdia.

(A Noite, 01/03/1956)

E vai acontecendo a redução da empresa nas linhas que operava. Chegou a vez agora das linhas 73 e 102, que passariam a ser operadas, na ordem, pela TURI-EMO e pela Nacional. O reinado de bons serviços vai chegando ao seu fim. 

(Diário da Noite, 24/12/1957)

(Diário de Notícias, 28/12/1957)

Em 1952 e 1953 aparece uma linha 69, que parece ter sido operada pela Relâmpago, porém não há comprovação disso, nem em qual linha.

Durante 1958 a empresa faliu e é citado que seu último proprietário, o Sr. Havelange, levou o que sobrou do material rodante para São Paulo e juntou-se ao proprietário da Viação Jabaquara, formando a Viação Cometa S/A urbana. 

Para uma empresa que começou comprando a Expresso Brasileiro, terminou criando uma concorrente.

[Pesquisa de Eduardo Cunha e Claudio Falcão]

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