Nossa matéria de
hoje retrata mais um italiano que veio viver no Rio, constituiu família, se
especializou em transportes e se naturalizou brasileiro, como fez também o seu
compatriota Mário Bianchi, ambos da cidade de Trieste. A diferença entre eles é
que Bianchi começou quase nove anos antes e morreu muito cedo, não vendo seu
reinado ir adiante como foi o de Luciano Stor, dono da Viação Ideal, atualmente
ainda em circulação, e sendo a mais antiga empresa carioca.
Assim como
Bianchi, não começou sozinho e sim com um sócio, Carlos Teixeira de
Vasconcellos, daí a primeira razão social da empresa: Stor & Vasconcellos.
Aqui, inserimos uma declaração
do historiador Jaime Moraes, do blog
Ilhajaime: “Quando lecionava para o
antigo Curso Ginasial, fui professor do Jayme Stor, filho
de um dos donos da Viação Ideal. Como ele sabia que eu gostava de
colecionar velharias, certo dia me presenteou
com o velocímetro, cuja foto lhe envio. Foi retirado de um ‘Aclo’, que infelizmente foi sucateado
para a retirada de peças. O velocímetro é uma obra prima de robustez, com um
rolamento de esferas na entrada do cabo que vem da caixa de mudanças. O corpo é
de alumínio fundido e tem uma inscrição com a data de 1931. Impressiona para a época a velocidade máxima
de 100 km/h. Os ‘Aclo’ eram bem
capazes de atingir esta velocidade... Curiosamente é o mesmo tipo de velocímetro,
inclusive a marca, utilizado nos veículos da Rolls Royce, com o zero na parte
superior.”
Dito isso, temos
a primeira informação publicada, dando satisfação à população da criação de uma
linha entre o Largo do Tanque e o Pontal, atualmente conhecido como Recreio dos
Bandeirantes.
Nessa informação
constava itinerário e seções, que eram:
- Itinerário:
Tanque, Estrada da Taquara, Estrada da Pavuna, Camorim, Abaeté, Vargem Pequena,
Vargem Grande, Rio Bonito, Estrada das Piabas e Pontal.
- Seções: foram
divididas em seções de $500 (quinhentos réis), do Tanque à Pavuna, da Pavuna ao
Camorim, do Camorim a Vargem Pequena, da Vargem Pequena a Vargem Grande, da
Vargem Grande a Piabas, de Piabas ao Recreio e tendo a passagem direta o custo
de 3$000 (três mil réis).
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(Diário da Noite, 21/12/1933) |
O despacho dando
concessão para a linha foi deferido em 21 de outubro de 1933, mas seu Termo
Inicial de Obrigação só foi assinado mais tarde. A sede
da empresa era na Estrada da Vargem Grande, em Jacarepaguá.
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(Jornal do Brasil, 21/12/1933) |
Em 1936, temos o
rompimento da sociedade e um novo Termo de Transferência de Autorização é
oficializado em 21 de dezembro de 1936, de Stor & Vasconcellos (Luciano
Stor e Carlos Teixeira de Vasconcellos), proprietários da Viação Ideal, para
Luciano Stor, agora sendo denominada Empresa Viação Ideal S.A.
A linha mudou para
Largo do Tanque x Recreio dos Bandeirantes, e o seu itinerário passou a ser
Largo do Tanque, Estrada da Taquara, Estrada Guaratiba, Ponte de Pavuna,
Camorim, Vargem Pequena, Vargem Grande, Piabas, Estrada das Piabas, Caminho dos
Bandeirantes, e vice-versa.
Suas seções
foram divididas em Largo do Tanque à Ponte da Pavuna, $500 (quinhentos réis); da
Ponte da Pavuna a Camorim, $500 (quinhentos réis); do Camorim a Vargem Pequena,
$500 (quinhentos réis); de Vargem Pequena a Vargem Grande, $500 (quinhentos
réis); da Vargem Grande a Piabas, $500 (quinhentos réis) e de Piabas ao Recreio
dos Bandeirantes, $500 (quinhentos réis) (1).
Conforme recorte
anexo, em 1939 a empresa obteve licença da PDF para a inclusão de mais um
ônibus na frota.
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(Correio da Manhã, 26/09/1939) |
Os dois próximos
recortes, mostram um atropelamento na Estrada dos Bandeirantes, ocorrido com um
ônibus da empresa, já então fazendo a linha Taquara x Recreio dos Bandeirantes.
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(Diário Carioca, 11/05/1948) |
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(Diário da Noite, 11/05/1948) |
Conforme novo
recorte encontrado, garantimos e afirmamos que a linha Largo do Tanque x
Recreio dos Bandeirantes ainda existia na data e ostentava o número de linha S-31.
Vejam senhores
“passageiros”, o que pode acontecer quando há discussões, por causa do aumento
da passagem do S-31. Seu motorista levou tiros em suas nádegas, de um
passageiro com o qual ele discutiu e o que deve ter-lhe custado ficar muitos
dias de molho, sem exercer a sua função profissional, acho até que para ele
seria bastante difícil caminhar, quanto mais dirigir...
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(A Noite, 12/03/1952) |
Nessa próxima
informação, apesar de ser sobre um acidente com um ônibus da empresa, nos
mostra a existência de uma linha desconhecida até então, Cascadura x Camorim,
pena não sabermos seu número.
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(Diário da Noite, 13/07/1954) |
A seguir, foto
de ônibus da frota da Ideal. Carros novos, caros e sem estrada de rodagem para
atender às necessidades deles e da população.
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Viação Ideal - década de 50 |
Já entrando pela
década de 50, a Ideal, com seus possantes veículos, tem problemas financeiros
devido ao descaso das autoridades – não nos referimos ao preço das passagens
cobradas –, e sim pela falta total de estrutura da Prefeitura para manter o
perfeito estado das vias por onde a empresa trafega, principalmente por dois
motivos importantes, o bem estar dos passageiros e a manutenção dos bons
veículos da empresa, em circulação.
Nessa matéria
podemos observar uma nova linha explorada por ela, Cascadura x Recreio.
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(Diário Carioca, 10/05/1955) |
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(Gazeta de Notícias, 05/06/1955) |
Vejam que o
“inusitado hábito” de incendiar e depredar ônibus não é de hoje, já era fato em
1955, conforme nos mostra o recorte a seguir .
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(Correio da Manhã, 15/07/1955) |
As fichas
mostradas adiante, como são da década de 50, devem ter sido usadas nas linhas
de Jacarepaguá.
E agora, aqui
temos a data efetiva na qual a Ideal deixou de trafegar em Jacarepaguá e foi
para Ilha do Governador operar a linha 207 – Castelo x Ribeira, obedecendo ao
seguinte itinerário: Ribeira, Jardim Guanabara, Estrada do Galeão, Av. Brasil,
Av. Francisco Bicalho, Av. Pres. Vargas, Rua Uruguaiana, Rua Alm. Barroso, Rua
Graça Aranha e Castelo. Na volta, Av. Rio Branco, Av. Pres. Vargas e demais
ruas como na vinda.
Assim começa a
segunda via crucis da Ideal, mudando
literalmente seu local de trabalho, de Jacarepaguá (Zona Rural) para a Ilha
(Zona Norte).
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(Diário de Notícias, 04/09/1955) |
Aqui, juntos,
temos dois exemplares da Ideal, provavelmente alugados para algum clássico que
estivesse acontecendo no Maracanã.
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(Acervo: Memória do Ônibus) |
Temos uma
reportagem feita por um jornal, exclusivamente sobre a Viação Ideal, onde seu
proprietário revelou seu desconforto pelos gastos com manutenção dos veículos e
pelo não aumento das passagens. Soubemos também qual a causa que levou a
empresa a sair de Jacarepaguá e ingressar na Ilha, além do convite do
proprietário da Paranapuan. O que lhe magoou mais foi o fato de um dos seus
veículos ter sido incendiado pela população a que atendia.
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(Gazeta de Notícias, 18/08/1956) |
Vemos a seguir
outra notícia, onde é assegurado o transporte para a Ilha, executado pela linha
Castelo x Ribeira.
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(A Noite, 19/11/1957) |
A próxima
matéria mostra que há alguns interesses e “interessados” em que haja uma
ligação com lotações ou micro-ônibus da Ilha para a Zona Sul e também para o
Centro do Rio, coisa que comprovadamente não se faz necessário, bastando a
prestação de serviço que a Ideal e a Paranapuan prestavam.
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(Diário da Noite, 04/12/1957) |
A matéria
seguinte é de elogios à empresa, sob o aspecto pontualidade e limpeza dos seus
veículos.
A outra é um
caso interessante, ou no mínimo inusitado: os trocadores da Ideal declaram-se
em greve, devido ao não pagamento do salário mínimo estabelecido por lei. O órgão
competente se propõe até a penhorar os bens das empresas que não se adequarem a
esse novo piso salarial!!!
Nessa matéria e
na anterior podemos observar que a empresa já estava também operando a linha
205 – Cocotá x Castelo.
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(Última Hora, 14/11/1958) |
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(Diário de Notícias, 02/04/1959) |
Mantendo a sua
tradição de usar carrocerias da Grassi,
seguem quatro exemplos, sendo dois da década de 50 e outros dois de 60. Em um
dos de 60, nota-se a falta da capelinha, para o número da linha
Agora as fichas
já estampam as linhas que a empresa atendia na Ilha do Governador
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Viação Ideal - década de 50 |
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Viação Ideal - década de 60 |
Agora, caros confrades,
segue uma descoberta que é total novidade no meio dos busólogos. A S-26 começou
sua vida como Saenz Peña x Cocotá, operada pela Ideal, em 1962.
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(Diário de Notícias, 02/11/1962) |
Temos então uma
proposta dos moradores da Ilha, ouvida pela Ideal, para tentar colocar uma
linha circular no interior da própria Ilha, atendendo da Freguesia ao Jardim
Ipitangas e bairros do entorno.
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(Diário de Notícias, 14/04/1966) |
Nessa congratulação
com os moradores da Ilha e, de tabela, informando seu atual endereço, Estrada
do Galeão, nº 180, estrada esta que foi denominada como Av. Coronel Luiz de Oliveira Sampaio.
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(Diário de Notícias, 02/06/1966) |
A matéria a
seguir nos mostra quais linhas estão sendo operadas pela Ideal, como também o
desconforto dos moradores pelas atitudes tomadas por ela e pelo BTC (Bureau dos
Transportes Coletivos).
As duas linhas
circulares eram a 902 e 903 (Ribeira x Bananal, ambas), as quais acreditamos
que anteriormente tenham sido Freguesia x Jardim Ipitangas.
Por sua vez, a
901, que era da Auto Viação Ilha, foi comprada pela Ideal, tanto a empresa
quanto os seus veículos, dito pelos moradores caindo aos pedaços e
posteriormente passados para a Guanabarina.
Além disso, a
Ideal, que já operava a 696 – Méier x Cocotá, pretendia estender até a Freguesia,
para acabar com a 901 – Bonsucesso x Bananal, algo que não ocorreu, pois a
linha 696 foi para a Praia do Dendê e a 901, repassada para a Guanabarina e
posteriormente, em 1973, para a Paranapuan. E tome reclamações para uma empresa
que já teve seus méritos de elogios na década de 50, quando se plantou na Ilha.
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(Diário de Notícias, 10/11/1966) |
Interessante a
propaganda da empresa, citando em quais linhas opera e informando o seu
endereço e telefones.
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(Diário de Notícias, 14/09/1967) |
Últimos modelos
das fichas usadas pela Ideal.
Duas amostras de
jornais, dedicando uma página inteira à Ideal, no ano em que ela comemorou seus
50 anos, ainda com a presença do seu fundador, administrando-a.
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(Ilha Notícias - 12/1983) |
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(Jornal Ônibus) |
Ela mais uma
inova, pensando em seus passageiros, ao adotar os populares “frescões”, nas
suas duas principais linhas do Centro para a Ilha. Ônibus mais modernos do que
os usados pelas demais empresas e com muita disponibilidade de horários, em
ambos os sentidos.
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(O Globo - Ilha, 16/12/1990) |
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(O Globo - Ilha, 23/12/1990) |
Sete anos após a
adoção dos “frescões”, a Ideal inova sendo a única empresa do município a
adotar os micro-ônibus com ar condicionado.
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(O Globo - Ilha, 29/06/1997) |
No ano em que
empresa completou seu 60º aniversário, seu fundador faleceu, ficando a firma na
mão dos seus filhos, mantendo o ambiente familiar que ela sempre teve.
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(O Globo - Ilha, 06/07/1997) |
Porém em 1998 o
ambiente familiar é desfeito, com a venda da Ideal para outros proprietários,
que comunicam à população, compram novos micros e mudam a padronização visual
da empresa.
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(O Globo - Ilha, 01/11/1998) |
Como citamos
anteriormente, a empresa é a mais antiga das empresas cariocas em funcionamento,
e em 2017 fará 84 anos. Esperamos que ela tenha condições
de continuar em operação por mais tempo e que continue agradando aos seus
usuários, como sempre quis o seu fundador, Luciano Stor.
Referência:
(1) – Jornal do Brasil,
24/12/1936.
[Pesquisa de Eduardo
Cunha e Claudio Falcão]