domingo, 16 de fevereiro de 2014

Viação Glória


Aqui começa a saga de uma das empresas mais antigas do Rio, que percorreu um longo trajeto até sua falência na década de 1980, passando por vários bairros cariocas e tendo vários proprietários e razões sociais, porém mantendo sempre o nome fantasia Viação Glória.

Em 26 de abril de 1928, compareceu a firma Joaquim, Irmão & Cia. Ltda., junto à Inspetoria de Concessões da Prefeitura do antigo Distrito Federal, para transferir para a Viação Glória Ltda., o termo de obrigação para continuação da operação de linha de ônibus automóveis, existente desde 25 de junho de 1927. Não conseguimos localizar o documento citado, e firmado com a empresa Joaquim, Irmão & Cia. Ltda., para obtenção de informações sobre para qual linha foi dada a concessão.  

(Jornal do Brasil, 13/05/1928)

Já em 14 de junho de 1932, foi estabelecido e assinado pelo então proprietário e razão social da empresa, J. Antônio Moreira, um novo termo aditivo para exploração da linha Palácio Monroe x Meyer, via Jacaré.

Esta linha obedeceria ao seguinte itinerário: Rua Cardoso, Rua Archias Cordeiro, Rua Souza Barros, Largo do Jacaré, Rua Dois de Maio, Rua Viúva Cláudio, Rua Lino Teixeira, Rua Conselheiro Mayrink, Rua Dr. Garnier, Rua D. Anna Nery, Rua São Luiz Gonzaga, Praça Marechal Deodoro da Fonseca, Rua Figueira de Mello, Rua Francisco Eugênio, Av. Francisco Bicalho, Av. do Mangue, Praça Onze de Junho, Rua Visconde de Itaúna, Praça da República, Rua Marechal Floriano, Rua Visconde de Inhaúma, Av. Rio Branco até o Monroe, obedecendo na volta os mesmos logradouros substituindo somente a Rua Visconde de Itaúna pela Rua Senador Eusébio. 

Estava dividida nas seguintes seções: do Meyer à Rua Licínio Cardoso, $400 (quatrocentos réis); da Rua Licínio Cardoso ao Largo da Cancella, $200 (duzentos réis) e do Largo da Cancella ao Monroe, $600 (seiscentos réis), havendo também seção a entre Rua Camerino e o Monroe, $200 (duzentos réis). A direta custaria 1$200 (hum mil e duzentos réis).

(Jornal do Brasil, 15/06/1932)

A seguinte ilustração comprova que a linha já havia sido ampliada até o Engenho de Dentro. A essa linha foi posteriormente atribuído o número 14.

Da mesma forma que a outra comprova a existência de sua garagem na Piedade, à Rua Elias da Silva, nº 11.

(A Noite, 14/07/1932)

(A Noite, 15/12/1932)

O próximo recorte mostra a melhora na organização dos controles da Prefeitura do Distrito Federal, continuando a atribuição de números para as linhas de ônibus, e a Viação Glória recebendo o número 33 para a então linha Monroe x Largo da Abolição.

E podemos também ver já um desses ônibus, com capelinha, ‘aprendendo a nadar’ na Praça da Bandeira.

Para aqueles que gostam de identificar linhas e empresas, a ilustração dá uma ampla relação das empresas da época e suas linhas, pelo menos no tocante às linhas urbanas.

(A Noite, 11/10/1937)

Ônibus 33, na Praça da Bandeira
(acervo Marcelo Prazs)

Em 1946, conforme ilustrações anexas, a Cruz, Filho & Cia., através do seu representante Francisco Corrêa Alves, reclama à reportagem da situação financeira da empresa, devido aos maus tratos das vias, como é apresentado o caso do trecho da Avenida Suburbana, no Largo da Abolição.

(A Noite, 30/01/1946)

Atentem para a ilustração abaixo, que mostra um movimento grevista fracassado, com ônibus parados na Praça Mauá, que a foto postada na matéria está ao contrário. Vejam as portas dos ônibus e os números na vista, invertidos.

(A Noite, 10/04/1947)

Em 1948, anúncio da Glória, notificando a inauguração da linha 133, Meyer x Copacabana.

(A Noite, 16/04/1948)

Apesar do péssimo estado das ruas, a Glória, acreditando na promessa da Prefeitura, comprou 10 novos veículos e colocou para rodar, na linha 133, conforme matéria a seguir. Junto com os veículos novos, circulavam os conhecidos ‘Camões’.

A Noite (19/11/1949)

(A Noite, 27/09/1952)

(A Noite, 11/03/1957)

Ônibus 'Camões', em 1957


Vemos também que o sistema de pilhagem sempre existiu no meio dos transportes. Observem esse caso da reutilização das fichas.

(A Noite, 19/12/1953)

Na reportagem a seguir, vejam a placa indicativa do ponto final da linha 238, na Praça 15. Vale lembrar que as linhas 238 e 239, foram operadas pela Glória, após a compra da Viação Todos os Santos S/A, na década de 60.


E nas fotos mais adiante, dois momentos diferentes de apresentações visuais (pinturas) da empresa.

(Correio da Manhã, 03/05/1972)

(Acervo do site Cia. de Ônibus)

(Acervo do site Ônibus do Rio)

Já na década de 80, a matéria reflete o estado de endividamento da empresa, que após algum tempo viria a falir.

(Jornal do Brasil, 23/04/1981)

Algumas outras linhas operadas pela Glória:
- em 1932, Monroe x Engenho de Dentro;
- em 1934/35, 14 – Monroe x Engenho de Dentro-Abolição, substituída pela 33, e trocada para Praça Mauá x Abolição, cassada em 1954;
- em 1943, S-14 – Cascadura x Marechal Hermes;
- em 1943, S-17 – Cascadura x Vila Valqueire;
- em 1943, S-45 – Bangu x Campo Grande;
- de 1943 até 1955, S-13 – Cascadura x Bangu;
- a partir de 1951, 133 – Méier x Forte de Copacabana, substituída em 1963 para 455; e
- operou também as linhas 238 e 239, ambas Praça 15 x Engenho de Dentro, que, quando a empresa faliu na década de 80, foram inicialmente passadas para a Companhia de Transportes Coletivos (CTC-RJ) e posteriormente para a Viação Verdun S/A.

Resumo das razões sociais da Viação Glória:
- de 1927 a 1928, Joaquim, Irmão & Companhia Ltda.
- de 1928 a 1932, Viação Glória Ltda.;
- de 1933 a 1939, J. Antônio Moreira; 
- de 1939 a 1941, Cruz, Filho & Cia.;
- de 1941 a 1952, Américo Duarte da Cruz e Francisco Correia Alves (F. Alves & Cruz Ltda.);
- de 1952 a 1958, Viação Glória Ltda. e
- de 1958 a 1982, Viação Glória S/A.

[Demais informações oriundas do site MILBUS e publicações Guerra de Posições na Metrópole, PDF e DOUDF.]

[Pesquisa de Eduardo Cunha e Claudio Falcão]

4 comentários:

  1. Empresas saem de cena e outras nascem sobre os escombros das que faliram.

    A Viação Glória não é diferente disso. Muito interessante ver de onde nasceu a Verdun.

    Abraço e ótima aula de história

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  2. Doria, prazer em recebe-lo no blog e grato por ter se tornado um seguidor. Como você disse a Glória não é diferente das outras e muitas trilharam esse caminho, de sai uma entra outra, morre uma nasce outra. Apesar de não ter sido essa exatamente a origem da Verdun, com certeza foi aí que ela vingou. Vou colocar a origem da Verdun na sua linha do tempo. E continue nos seguindo, todo domingo teremos novas edições. Abraços.

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  3. Mais uma vez, uma eficaz abordagem, Cunha. Só reitero que na década de 1940 a Renascença Auto Omnibus Ltda veio a assumir a antiga linha Méier x Monroe, sua garagem era na Rua Frederico Méier 19. Grande abraço!

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    1. Prazs, não consegui entender tua colocação. Primeiro que você está falando da Renascença na matéria da Glória. Segundo que a linha citada já era da Renascença desde 1931, conforme uma publicação citada por você mesmo, que está na matéria da Renascença. Favor me explicar sua dúvida, na matéria da empresa. Grato e abraços.

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