domingo, 8 de novembro de 2015

Viação Continente-Ilha Ltda.

Com a proximidade da inauguração da ponte que ligaria a Ilha do Governador ao continente, em janeiro de 1949, um problema surgiu: de nada adiantaria uma ponte, se não houvesse um meio de transporte rodoviário ligando a Ilha ao Centro da cidade. Infelizmente, a empresa que explorava as linhas internas, Empreza E. L. Freitas, não possuía estrutura suficiente, contentando-se com uma linha entre Bonsucesso e Freguesia, mas não encontramos qualquer matéria afirmando sua existência.

A empresa denominada Viação Continente-Ilha Ltda., chegou até a publicar anúncio em jornal, anunciando para breve a inauguração de suas três linhas para a Ilha, Galeão, Freguesia e Ribeira, conforme recorte abaixo.

(Correio da Manhã, 05/02/1949)

Porém, devido a motivos alheios aos nossos conhecimentos, nada disso veio a acontecer, e sim que a solução encontrada foi ceder provisoriamente a nova linha a uma empresa já estabelecida na cidade. Como a Ilha possuía pouquíssimas ruas pavimentadas e os ônibus urbanos convencionais certamente não iriam resistir por muito tempo à lama e aos buracos, esta deve ter sido a razão para a cessão da concessão à EMO, e todo o processo de relacionamento entre ela e a Continente-Ilha, bem como o início da confecção provisória de uma ata de constituição, para a futura Transportes Paranapuan S/A.

Foram então adquiridos da massa falida da Viação Excelsior, dois ônibus Guy, apelidados de ‘Detefon’ – devido ao excesso de baratas que eram encontradas em seus interiores –, e que seguiriam o trajeto restante, Galeão x Freguesia, por dois diferentes itinerários.  Apesar de somente um veículo em cada linha, suas enormes rodas passavam por qualquer buraco mais profundo que fosse encontrado.

A seguir, duas raras menções aos ônibus da Continente-Ilha, uma foto de um deles na antiga Praça Carmela Dutra, na Freguesia, em 1949, e a outra um ‘desenho artístico’, assinado por A. Said, também em 1949, com o veículo trafegando na orla da Ilha.

Atentem que, no desenho, os ônibus foram dotados de faróis, coisa que quando circulavam pela Excelsior, não tinham.

Praça Carmela Dutra - Freguesia
(imagem cedida pelo historiador Jaime Moraes)

Ônibus 'Detefon' da Viação Continente-Ilha - gravura: A. Said (1949)
(imagem cedida pelo historiador Jaime Moraes)

Como relatado na ata de incorporação da Transportes Paranapuan S/A: “Os fundadores obrigam-se a adquirir acervo da Viação Continente-Ilha Ltda„ e os direitos da concessão "Ilha do Governador"  outorgada à Emprêsa Municipal de Ônibus S. A.; as importâncias despendidas ou a despender serão as permitidas pela Lei das Sociedades Anônimas na forma do art. 129, alíneas "d" — "e" mediante autorização expressa de cada subscritor no ato da subscrição(1).

Esse descritivo nos informa que a Continente-Ilha teve sua vida terminada quando da fundação da Paranapuan, o que ocorreu em 1951.

Referência:

(1) – DOU/DF, 1949

[Pesquisa de Eduardo Cunha e Claudio Falcão]

6 comentários:

  1. Suas pesquisas vão ao fundo na historia do ônibus parabens

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Grato pelo seu comentário e elogio. É para isso que pesquisamos, para descobrir e divulgar os achados e compartilhar com o grupo. Abraços, Gusmão.

      Excluir
  2. Amigo Eduardo, só tenho a lhe agradecer por nos trazer grandes tesouros das empresas do nosso querido Rio de Janeiro.
    Grande abraço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Edvaldo, nós é que agradecemos as visitas de todos vocês e ficamos muito contentes em descobrir essas notícias, que também as vezes nos são novidades. Para nós esses comentários só reforçam nosso interesse em procurar e descobrir mais, para passar a todos os aficionados pelos ônibus do Rio. Forte abraço amigo.

      Excluir
  3. Interessante observar que os "Guy-Daimler" ( chassi Guy e motor Daimler) que rodaram na Ilha possuíam farois adaptados, que aliás não adiantavam muita coisa. A forração dos bancos era do tipo que parecia uma pele de onça pintada.
    O para brisas basculante era outro problema... Uma vez aberto entrava uma poeirada de barro vermelho no interior do ônibus...
    Creio que a caixa de mudanças não era sincronizada, considerando o tempo em que o motorista levava para efetuar a troca das marchas.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Jaime, mesmo com tantos problemas, eles rodaram por muito tempo, cumpriram muito bem suas funções e ainda foram reaproveitados até o início da década de 50. Foram fiéis servidores. Abraços.

      Excluir